Cassação do Senador Delcídio do Amaral
Senado cassa mandato de Delcídio por 74 votos a favor e nenhum contra
Para
senadores, Delcídio quebrou o decoro ao tentar obstruir Lava
Jato.
Suplente Pedro Chaves dos Santos terá até 30 dias para
assumir mandato.
Por
74 votos a favor, nenhum contra e uma abstenção, o plenário do
Senado cassou nesta terça-feira (10) o mandato do senador Delcídio
do Amaral (sem
partido-MS) por quebra de decoro parlamentar.
A
única abstenção foi do senador João Alberto (PMDB-MA), presidente
do Conselho de Ética do Senado.
Dos 81 senadores, cinco não compareceram à sessão: o próprio
Delcídio do Amaral; Eduardo Braga (PMDB-AM); Maria do Carmo Alves
(DEM-SE); Rose de Freitas (PMDB-ES); e Jader Barbalho (PMDB-PA).
O
mandato de Delcidio se encerraria em 2018. Com a decisão do Senado,
ele fica inelegível por oito anos a partir do fim do mandato, ou
seja, não poderá concorrer a cargos eletivos nos próximos 11 anos.
Segundo a Secretaria Geral do Senado, Delcídio é o terceiro senador
cassado na história da instituição – os outros dois foram
Demóstenes Torres e Luiz Estevão (leia
mais ao final desta reportagem).
Ex-líder
do governo no Senado, Delcídio do Amaral foi preso pela Polícia
Federal (PF), em
novembro do ano passado,
por tentar obstruir as investigações da Operação Lava Jato ao
oferecer R$ 50 mil mensais à família de Nestor Cerveró para tentar
convencer o ex-diretor da Petrobras a não fechar um acordo de
delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF).
Delcídio
foi solto em fevereiro após fechar um acordo de delação premiada
com a Procuradoria Geral da República. Ele ficou 87 dias na cadeia.
A
decisão de cassar o mandato do senador do Mato Grosso do Sul deverá
ser publicada na edição desta quarta (11) do “Diário Oficial do
Senado” juntamente com um comunicado convocando o primeiro
suplente de Delcídio,
o empresário sul-matogrossense Pedro Chaves dos Santos (PSC-MS). O
suplente terá até 30 dias para assumir a cadeira de Delcídio.
Para
que Delcídio perdesse o mandato, eram necessários, pelo menos, 41
votos favoráveis. O pedido de cassação do ex-líder do governo foi
protocolado no Conselho de Ética, em dezembro, pela Rede
Sustentabilidade e pelo PPS.
Gravações
A conversa na qual Delcídio oferece um plano de fuga para o ex-dirigente da Petrobras foi gravada por Bernardo Cerveró, filho de Nestor Cerveró. No áudio, o então líder do governo diz que conversaria com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para que os magistrados intercedessem em favor de Cerveró.
Na
delação premiada, o senador cassado citou o nome de vários
políticos de expressão nacional, entre eles a presidente Dilma
Rousseff,
o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente do Senado,
Renan
Calheiros(PMDB-AL),
e o senador e presidente nacional do PSDB, Aécio Neves (MG).
Conselho
de Ética
O
processo de cassação de Delcídio do Amaral no Conselho de Ética
se estendeu ao longo de cinco meses. Desde que foi libertado por
ordem do Supremo, o senador se manteve afastado do Senado com
consecutivas licenças de saúde. Ele foi convidado quatro vezes a
depor no colegiado para se defender, mas, não compareceu em nenhuma
delas e o conselho desistiu de ouvi-lo.
No
dia 3, o Conselho de Ética aprovou o relatório do senador Telmário
Mota (PDT-RR) que recomendava a cassação do mandato de Delcídio.
Em seu parecer, o relator defendeu que, pelo conteúdo da gravação,
o senador sul-matogrossense infringiu o decoro parlamentar e, por
isso, deveria perder o mandato.
A
defesa de Delcídio, entretanto, tentou barrar a cassação alegando
que o senador não estava exercendo atividade parlamentar quando foi
gravado por Bernardo Cerveró. Os advogados do ex-líder do governo
também afirmaram que eram bravatas as promessas que Delcídio fez ao
filho de Cerveró de que iria pedir a intervenção de ministros do
STF para tentar garantir a liberdade do ex-diretor da Petrobras.
Por
fim, quando perceberam que era praticamente irreversível a cassação
de Delcídio, os defensores propuseram que fosse aplicada uma pena
mais branda do que a cassação, como perda temporária do mandato ou
censura. No entanto, a proposta foi ignorada pelos senadores.
Delcídio
no Senado
A única vez em que Delcídio compareceu no Senado para se defender foi nesta segunda-feira (9). Ele compareceu à sessão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) convocada para analisar a legalidade do relatório aprovado no Conselho de Ética.
Diante
dos colegas de Senado, Delcídio pediu
"desculpas" pelo constrangimento que
causou aos pares e afirmou que é "acusado de obstrução de
Justiça", mas que isso não é um crime grave.
"Eu
não roubei, não desviei dinheiro, não tenho conta no exterior.
Estou sendo acusado de quê? De obstrução de Justiça",
enfatizou.
Na
ocasião, a análise do processo na CCJ chegou a ser adiada depois
que os integrantres da comissão aprovaram, por maioria, um
requerimento do senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) que solicitava ao
Supremo informações adicionais sobre o caso.
Renan
Calheiros, porém, barrou a manobra que daria mais tempo a Delcídio.
O presidente do Senado condicionou a votação do processo de
cassação de Delcídio para pautar para esta quarta-feira (11) a
sessão que poderá autorizar a instauração do processo de
impeachment de Dilma.
Com
o ultimato, os integrantes da CCJ aceitaram
apreciar no plenário a
legalidade do relatório do Conselho de Ética, liberando o processo
para ser votado nesta terça pelos senadores.
Político
com perfil técnico
Delcídio do Amaral Gomez, 61 anos, é formado em engenharia elétrica. No começo dos anos 90, ele atuou como diretor da petroleira Shell na Holanda. O ex-líder do governo também foi ministro interino de Minas e Energia no governo do ex-presidente Itamar Franco.
Delcídio
atuou ainda como diretor da Eletrosul, empresa pública que cuida do
sistema elétrico na Região Sul. Ele também chegou a participar do
Conselho de Administração da mineradora Vale.
Depois
de transitar em cargos de alto escalão no setor de energia, Delcídio
se elegeu, em 2002, senador pelo Mato Grosso do Sul. Em seu primeiro
mandato, ele ganhou notoriedade nacional como presidente da CPI dos
Correios, que investigou o esquema de compra de votos parlamentares
em troca de apoio ao governo Lula no Congresso, o chamado mensalão
do PT.
Em
2006, Delcídio concorreu a governador de Mato Grosso do Sul, mas
acabou derrotado no primeiro turno. Quatro anos mais tarde, ele se
reelegeu para o Senado.
Suplente
Com a cassação de Delcídio, o primeiro suplente do senador, o empresário Pedro Chaves dos Santos (PSC-MS), será convocado a ocupar a vaga aberta no Senado. O suplente terá até 30 dias para assumir a cadeira do ex-líder do governo.
A
assessoria de Chaves dos Santos informou ao G1 que ele tem a intenção
de assumir o mandato que se encerra em 2018.
Formado
em Economia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Pedro
Chaves dos Santos é empresário do ramo da educação em Mato Grosso
do Sul. Ele fundou um grupo de faculdades particulares no estado,
entre as quais a Universidade para o Desenvolvimento do Estado e
Região do Pantanal (Uniderp).
O
suplente de Delcídio vendeu parte das escolas de ensino superior que
possui ao grupo Anhanguera em uma transação milionária. À Justiça
Eleitoral, ele declarou ser dono de um patrimônio de mais de R$ 68
milhões.
Pedro
Chaves dos Santos possui vínculo familiar com o pecuarista José
Carlos Bumlai, amigo de Lula que está preso em regime domiciliar por
suspeita de envolvimento no esquema de corrupção que atuava na
Petrobras. Uma filha do suplente de Delcídio é casada com um dos
filhos do pecuarista. Bumlai é réu na Lava Jato por corrupção
passiva, gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro.
Outros
cassados
Não é a primeira vez que um senador perde o mandato por quebra de decoro parlamentar.
Demóstenes
Torres (GO), que era filiado ao DEM, foi
cassado em 2012,
e Luiz Estevão (DF), ex-PMDB, perdeu o mandato no ano de 2000.
Demóstenes
foi acusado de quebra de decoro parlamentar por suspeita de ter
utilizado o mandato para auxiliar os negócios do contraventor
Carlinhos Cachoeira, preso pela Operação Monte Carlo, da Polícia
Federal, sob acusação de explorar jogos ilegais. Poucos dias após
a prisão do contraventor, surgiram notícias do envolvimento de
Carlinhos Cachoeira com Demóstenes Torres.
Demóstenes
foi cassado com 56 votos favoráveis, 19 contra e cinco abstenções.
Ele está inelegível até 2027.
Já
Luiz Estevão perdeu o mandato sob a acusação de ter mentido no
Senado ao negar envolvimento no desvio de R$ 169 milhões nas obras
do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de São Paulo. A cassação de
Luiz Estevão recebeu 52 votos a favor, 18 contra e dez abstenções.
Ele
ficou inelegível até 2015. Atualmente, Estevão está preso no
Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, acusado de corrupção
ativa, estelionato, peculato, formação de quadrilha e uso de
documento falso nas obras do TRT de São Paulo.
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