Como eram construídos os supersoldados do nazismo?
Como o nazismo usou drogas para construir supersoldados
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Adolf Hitler: ele também era usuário de Pervitin, a droga à base de metanfetamina distribuída aos soldados alemães para que lutassem com mais vigor. |
Steve
Rogers era um rapaz franzino, de saúde tão debilitada que acabou
sendo recusado pelo Exército americano quando tentou se alistar.
Mas
estava disposto a qualquer coisa para ajudar seu país a derrotar os
nazistas na 2ª Guerra Mundial. Sua determinação era tanta que ele
até topou servir de cobaia num experimento científico.
Aplicaram-lhe
um soro misterioso. Submeteram-no a radiação. E pronto. Como num
passe de mágica, o fracote virou um sujeito fortão, incrivelmente
ágil e dono de poderes sobre-humanos.
Foi
assim que surgiu o Capitão América, um dos mais populares heróis
das histórias em quadrinhos.
Os
nazistas também tentaram criar supersoldados, só que na vida real.
Em vez de soro e radiação, eles bombavam seus combatentes com
metanfetaminas - drogas químicas extremamente fortes que estimulam o
sistema nervoso central.
Calcula-se
que, entre 1939 e 1945, cerca de 200 milhões de pílulas de Pervitin
- um composto à base de metanfetamina - tenham sido distribuídas
entre as tropas alemãs que lutavam na 2ª Guerra.
Elas
deixavam os soldados de Hitler
ligadaços,
sem sono, sem fome e sem sede. O poder de concentração aumentava,
assim como a capacidade de resistir à dor.
E
a autoconfiança ia lá para cima. A bem da verdade: os combatentes
aliados também consumiam estimulantes, mas em quantidade bem menor.
Foi
fazendo uso indiscriminado desse tipo de substância que as Forças
Armadas alemãs invadiram de maneira avassaladora a Polônia, a
Holanda, a Bélgica e a França na fase inicial do conflito.
Efeitos
colaterais
O
Pervitin não foi originalmente desenvolvido para fins militares. A
droga
foi sintetizada em 1938, por um
laboratório farmacêutico chamado Temmler, e rapidamente se
transformou num sucesso de vendas entre a população civil da
Alemanha.
Não
demorou, contudo, para que seus efeitos estimulantes chamassem a
atenção de gente ligada à máquina de guerra nazista.
Em
agosto de 1939, o médico Otto Ranke, da Academia de Medicina Militar
de Berlim, decidiu testar a substância em 90 estudantes
universitários.
Concluiu
o estudo convencido de que ela poderia ajudar os alemães a vencer a
guerra.
Os
primeiros a consumi-la numa frente de batalha foram motoristas que
participaram da invasão da Polônia.
Logo
depois, as pílulas passaram a ser distribuídas sem qualquer
restrição entre as tropas alemãs em todos os fronts.
"Apenas
no curto período entre abril e julho de 1940, mais de 35 milhões de
comprimidos foram despachados para o Exército e a Força Aérea",
diz o criminologista alemão Wolf Kemper, autor do livro Nazis on
Speed (em tradução livre, "Nazistas a Milhão", inédito
no Brasil). Segundo Kemper, cada pílula continha 3 miligramas de
substância ativa.
O
Alto-Comando recomendava que a droga fosse consumida com alguma
moderação: um ou dois comprimidos "apenas quando necessário",
para manter os soldados acordados. Mas, no calor dos combates cada
vez mais longos e intensos, ninguém seguia essa orientação.
Afinal,
os efeitos do Pervitin eram rápidos e extremamente revigorantes,
como descreveu um oficial alemão em seu diário no ano de 1942.
Segundo
o relato, um grupo de 500 soldados nazistas estava a ponto de se
render aos soviéticos no front oriental.
Era
janeiro, auge do inverno, e a temperatura batia na casa dos 30 graus
negativos. Um a um, os combatentes alemães largavam suas armas e
sucumbiam à exaustão.
Foi
quando o comandante ordenou ao médico da tropa que distribuísse
Pervitin à vontade.
"Meia
hora depois", escreveu o oficial anônimo, "os homens já
se sentiam bem melhores. Começaram a marchar novamente, recobraram o
vigor e escaparam do cerco".
O
problema é que, como toda droga à base de metanfetamina, o Pervitin
frequentemente levava à dependência e provocava efeitos colaterais
severos, ainda que consumido com a "moderação"
recomendada.
Surtos
psicóticos tornaram-se relativamente comuns, assim como os casos de
transpiração excessiva e disfunção do sistema circulatório.
Alguns
soldados chegaram a morrer em decorrência do consumo excessivo -
vítimas de paradas cardiorrespiratórias ou ataques fulminantes do
coração.
Nada
disso, porém, foi suficiente para que a droga fosse banida ou, pelo
menos, tivesse seu consumo controlado.
E
o pior: da metade para o fim da 2ª Guerra, os combatentes enviados
para as frentes de batalha eram cada vez mais jovens.
Não
se sabe quantos ficaram dependentes de Pervitin até a rendição
alemã, em 1945. Provavelmente foram milhares. Talvez tenham sido
milhões.
Pílulas
de cocaína
Um
estudo recente publicado pela Associação de Médicos da Alemanha
revelou que, além de distribuir Pervitin entre seus soldados, o
regime nazista produziu outro tipo de estimulante químico para uso
em combate.
Batizada
de DI-X, a droga levava cocaína na composição e teve sua
eficiência testada em prisioneiros de Sachsenhausen, um campo de
concentração ao norte de Berlim.
"A
ideia era redefinir os limites da resistência humana", diz
Kemper. "Num dos testes em Sachsenhausen, os prisioneiros usados
como cobaias caminharam mais de 100 quilômetros depois de receber a
substância, sem ter um só minuto de descanso e carregando mais de
20 quilos nas costas."
A DI-X foi desenvolvida em março de 1944 pelo farmacologista Gerhard Orzechowski, a pedido de Hellmuth Heye, vice-almirante da Marinha alemã.
A DI-X foi desenvolvida em março de 1944 pelo farmacologista Gerhard Orzechowski, a pedido de Hellmuth Heye, vice-almirante da Marinha alemã.
Segundo
Kemper, cada pílula continha 5 miligramas de cocaína, 3 miligramas
de metanfetamina e 5 miligramas de Eukodal, um analgésico derivado
da morfina.
O
plano era distribuí-la em quantidades ainda maiores do que fora
feito com o Pervitin, sobretudo entre os soldados das linhas de
frente.
Mas
não houve tempo para isso. Com a invasão da Normandia por tropas
americanas em junho daquele mesmo ano e o avanço soviético no front
oriental, as forças de 3º Reich rapidamente entraram em colapso.
Menos
de um ano depois, Hitler se suicidaria, e a Alemanha se renderia
incondicionalmente às forças aliadas.
As
balas preferidas do Führer
Hitler
também era usuário de Pervitin, a droga à base de metanfetamina
distribuída aos soldados alemães para que lutassem com mais vigor.
Pelo
menos, é isso o que diz a neurologista Virna Teixeira, especializada
em dependência química pela Universidade Federal de São Paulo
(Unifesp).
Segundo
Teixeira, o médico particular do Führer, Theodor Morell, costumava
aplicar-lhe uma mistura injetável de glicose e Pervitin sempre ele
precisava de um "estímulo" - como nos dias em que fazia
longos discursos.
"Nos
2 ou 3 últimos anos de vida, Hitler passou a usar metanfetaminas
diariamente", afirma a neurologista. "Pode-se dizer,
portanto, que ele era um dependente."
Teixeira acredita que vários problemas de saúde enfrentados pelo ditador alemão eram decorrentes do uso regular de Pervitin.
Teixeira acredita que vários problemas de saúde enfrentados pelo ditador alemão eram decorrentes do uso regular de Pervitin.
Hitler
teve duas hepatites e sofria de hipertensão - enfermidades que, de
acordo com a neurologista, podem ser provocadas por metanfetaminas.
"Hoje,
sabemos que, entre os efeitos colaterais dessas substâncias,
destacam-se taquicardia, elevação da pressão arterial, arritmias,
hepatites tóxicas e acidentes cardiovasculares, entre outros."
Usuários
contínuos de metanfetaminas, segundo Teixeira, também correm mais
risco de desenvolver o mal de Parkinson. "E Hitler apresentava
claros sinais dessa doença na fase final de sua vida."
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