Go: Humanos X Máquinas

Máquina do Google derrota campeão em jogo mais complexo que xadrez

Inteligência artificial do Google venceu disputa com campeão europeu sem perder um jogo.



Um computador venceu um campeão humano de Go, o jogo de tabuleiro mais complexo do mundo –alcançando um "patamar histórico em inteligência artificial", de acordo com artigo publicado na revista científica "Nature", nesta quarta-feira (27).
A máquina AlphaGo, desenvolvida por Demis Hassabis e colegas da empresa DeepMind em Londres, que pertence ao Google, triunfou diante de Fan Hui, o campeão europeu de Go, com um placar de cinco jogos a zero. Jon Diamond, presidente da Associação Britânica de Go, comentou: "Antes desta disputa, eu esperava que cinco ou 10 anos se passassem antes que um programa pudesse derrotar os melhores jogadores humanos."
O Google, é claro, não está jogando apenas pela diversão. "Embora jogos sejam a plataforma perfeita para desenvolver e testar algoritmos de inteligência artificial rápida e eficientemente, ao cabo nós queremos aplicar essas técnicas em problemas importantes do mundo real", disse Hassabis.
Aplicações futuras vão combinar reconhecimento de padrões e planejamento. Um exemplo pioneiro será um assistente pessoal inteligente melhorado para smartphones. Outro será em medicina, combinando imagens de exames e outros dados de pacientes para diagnosticar uma doença e decidir o tratamento.
O antigo jogo de Go, nascido na China há mais de 2.500 anos, tem um número estimado de jogadores de 40 milhões ao redor do mundo e 1.000 profissionais, principalmente na Ásia.
Embora o computador da IBM, Deep Blue, tenha notoriamente derrotado o campeão enxadrista Garry Kasparov em 1997, o Go tem uma complexidade que excede em muito a do xadrez, disse Hassabis, um ávido jogador de ambos os jogos. "Há mais posições possíveis em Go do que há átomos no universo. Go tem mais profundidade intelectual do que o xadrez."
O Google derrotou também o Facebook, cujo diretor-executivo, Mark Zuckerberg, disse que sua equipe estava perto de construir uma inteligência artificial capaz de vencer no Go. "Em março, o AlphaGo vai enfrentar o desafio derradeiro, uma disputa de cinco jogos contra o lendário Lee Sedol –o melhor jogador de Go do mundo na última década", disse Hassabis.
Em declaração à "Nature", Lee disse: "Eu ouvi dizer que a inteligência artificial da DeepMind é surpreendentemente forte e que está ficando mais forte, mas estou confiante de que consigo vencer, pelo menos por ora." Se ele estiver certo, o Google vai pagar a ele US$ 1 milhão; se perder, o montante sera doado à caridade.
Cientistas há muito usam jogos para testar inteligência artificial, para inventar programas mais inteligentes, que permitem que computadores abordem problemas com algo que se aproxime da flexibilidade humana. Mas métodos tradicionais, que buscam exaustivamente por posições possíveis em um tabuleiro, não funcionam com o Go.
O jogo parece simples. Começando com um tabuleiro com 19 linhas verticais e horizontais, jogadores colocam peças pretas e brancas nas intersecções. O objetivo é controlar uma área maior do que a do oponente.

Mas a simplicidade é enganosa. Go é o mais complexo jogo de "conhecimento perfeito" –em que sorte e jogadas escondidas não têm lugar. O Google solucionou o problema criando "redes neurais profundas", que tomam o tabuleiro como entrada e processam os dados através de milhões de conexões modeladas à maneira de neurônios humanos.

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