Liberação da Cannabis
"Argumento pela legalização da maconha venceu", decreta a revista The Economist
Principal
publicação de direita no mundo afirma que o debate já está
concluído, e que a legalização venceu. Agora vem o mais difícil:
decidir como.
A
matéria de capa desta semana da revista britânica The
Economist,
considerada a mais influente publicação entre os defensores do
liberalismo econômico, decretou que o debate sobre a conveniência
de legalizar a maconha está terminado - e a resposta é "sim".
A revista faz um abrangente balanço de todos os experimentos que
estão acontecendo em vários países do mundo com novas políticas
para lidar com a droga. "Uma grande mordida foi tirada do
mercado da máfia, milhares de jovens foram poupados de uma ficha
criminal e centenas de milhares de dólares foram legitimamente
ganhos e taxados. Até o momento, não houve explosão no consumo nem
na criminalidade", diz o artigo.
"Como legalizar cannabis com segurança", diz a capa. |
A
revista afirma que não faz mais sentido ficar debatendo se a
legalização é desejável ou não - é hora de avançar e discutir
o "como". "Ativistas a favor e contra a maconha
precisam se ajustar a essa nova realidade. Aqueles que prefeririam
banir a droga precisam parar de chicotear o cavalo morto da proibição
e iniciar campanhas a favor de versões da legalização que causem
menos dano." Já os defensores da erva têm que ficar atentos às
formas de regular os mercados, para evitar que eles caiam em mãos
tão descomprometidos com o bem público como aquelas que atendem os
consumidores de tabaco, por exemplo.
Há
muitos jeitos diferentes de legalizar a maconha - e cada um deles nos
levará a um lugar bem diferente. Pegue como exemplo a carga de
impostos que pode ser aplicada ao produto. Os dois primeiros lugares
do mundo a regulamentar o mercado - os Estados americanos de Colorado
e Washington - fizeram escolhas distintas. Em Washington, o imposto é
altíssimo (44%), além de haver um sistema bem mais restrito, que
emite menos licenças para o comércio. Já no Colorado,
os impostos são bem mais baixos (28%) e o mercado é mais aberto.
Com isso, o grama de maconha legal em Washington custa em média 25
dólares, comparado a 15 dólares no Colorado - no mercado negro o
preço é de 10 dólares. Consequentemente, os traficantes de
Washington não perderam muitos fregueses - só 30% dos usuários
trocaram pelo produto legalizado. Já os do Colorado estão numa
crise econômica profunda: perderam 70% de suas vendas.
O
Uruguai, que já decidiu pela legalização mas ainda está em
processo de regulamentar seu mercado, quer cobrar menos imposto ainda
que o Colorado. O objetivo lá é fazer com que o preço do produto
legal seja igual ao do traficante, tirando-o do mercado. Calcula-se
que as receitas trazidas pela maconha representem em torno de 50% do
mercado global de drogas ilícitas, estimado em cerca de 300 bilhões
de dólares - ou seja, o espalhamento da legalização pelo mundo tem
o potencial de ferir de morte as organizações de tráfico, que hoje
são as instituições criminosas mais poderosas do mundo.
Mas
é claro que, quando a maconha é muito barata, há o risco de o
consumo aumentar - e a Economist
acredita
que é importante evitar que isso aconteça. Afinal, embora os danos
à saúde causados pela maconha no geral não sejam gravíssimos, há
ainda muita incerteza quanto aos efeitos de fumar grandes quantidades
em frequências altas demais - essa incerteza é razão suficiente
para que os governos sejam cautelosos. Ainda mais porque os dois
públicos que mais correm perigo com o uso da maconha - os muito
jovens e os dependentes - são justamente os mais sensíveis a preços
altos.
A
revista, que costuma ser ouvida com atenção por governantes e
legisladores do mundo inteiro, recomenda que os países mais ricos
adotem impostos altos, para não incentivar demais o aumento do
consumo. Já os países da América Latina, que hoje têm problemas
brutais de violência financiada pelo tráfico de drogas, precisam
que a maconha legal custe mais barato, para reduzir o poder do crime
organizado. Uma outra alternativa, no meio-termo, é fazer o
mesmo que os EUA fizeram nos anos 1930, quando legalizaram o álcool
(que havia sido proibido na década anterior): primeiro implementaram
impostos baixos. Aí, depois de alguns anos, quando Al Capone e seus
colegas já haviam falido e os consumidores já estavam satisfeitos
com a indústria legalizada, os impostos subiram. Hoje, o álcool é
bem caro nos EUA, refreando o consumo, mas ninguém recorre a
traficantes de bebidas.
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