Coréia do Norte, escravidão para roubos de placas
Turista americano é condenado a 15 anos de trabalho forçado por roubar uma placa na Coreia do Norte
Otto
Frederick Warmbier, de 21 anos, não é o primeiro estrangeiro a ser
preso por crimes não-violentos no país. Conheça essa e outras
histórias de condenações absurdas na Coreia do Norte.
Turistas são presos na Coreia do Norte por crimes não violentos e condenados a vários anos de trabalho forçado |
Imagine
ser condenado a 15 anos de trabalho forçado na Coreia do Norte.
Agora, imagine que o motivo da condenação tenha sido o roubo de uma
simples placa. Foi o que aconteceu com o americano Otto Frederick
Warmbier, um estudante de 21 anos da Universidade de Virgínia, que
foi viajar de férias para a Coreia do Norte no início do ano.
Warmbier
foi detido no dia 2 de janeiro, depois de ter retirado uma placa com
um slogan político de uma área restrita a funcionários no hotel
internacional Yanggakdo, em Pyongyang. Quase dois meses depois, no
dia 29 de fevereiro, ele deu uma entrevista
coletiva
e televisionada que, no mínimo, é muito estranha. Nela,o estudante
confessa o roubo da placa de forma dramática, dizendo: "Eu
compreendo a severidade do meu crime e eu não tenho ideia do tipo de
pena que terei de encarar, mas estou implorando para o povo e para o
governo coreano pelo meu perdão. Eu rezo para os céus que eu possa
retornar para a minha casa e para a minha família".
Warmbier
também afirma que o ato teria sido planejado pela igreja metodista,
pela Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos e pela Z
Society - uma organização filantrópica da Universidade de
Virgínia. ?O objetivo desse crime foi prejudicar o trabalho, a ética
e a motivação do povo norte-coreano. Foi um objetivo muito bobo",
diz o rapaz.
De
forma pausada, o estudante descreve como teria sido incentivado, pela
igreja, pelo governo dos Estados Unidos e pela Z Society, a roubar a
placa como um "troféu para demonstrar a supremacia do Ocidente
sobre a Coreia", já que os slogans seriam "muito
importantes para o povo coreano", e conta que a igreja teria
oferecido 200 mil dólares como uma "indenização" para a
família dele, caso ele fosse preso e não retornasse.
O
estudante também se diz "impressionado pelo governo da Coreia,
pelo povo coreano e pelo tratamento humanitário de criminosos como
eu, e pelos procedimentos legais justos e claros que o país possui".
Outros
casos
A
situação de Warmbier não é incomum. Na verdade, o estudante está
entre as várias histórias mais conhecidas de estrangeiros detidos
na Coreia do Norte e penalizados de forma semelhante por crimes não
violentos.
Em
2009, um missionário cristão chamado Robert Park foi preso por 43
dias por protestar pelos direitos humanos na Coreia do Norte. Park
afirma ter sofrido abuso sexual durante a sua prisão,que ele
caracterizou como humilhante e pior do que a morte. Anos depois do
ocorrido, o missionário tentou suicídio diversas vezes.
Outro
caso famoso é o das jornalistas Laura Ling e Euna Leede, de Los
Angeles, que foram sentenciadas a 12 anos de trabalho forçado por
terem tentado entrar ilegalmente no país para investigar o tráfico
de mulheres para a China, em 2010. Elas ficaram presas em quartos
separados durante cinco meses, em uma casa com pouca iluminação e
sem água corrente, até que o governo dos Estados Unidos conseguisse
negociar a libertação.
Em
2014, Jeffrey Fowle, um senhor de 56 anos de Ohio, passou seis meses
na prisão na Coreia do Norte por deixar uma Bíblia em um boxe de
banheiro de um bar. Já Merrill Newman, um norte-americano de 85
anos, foi preso em 2013 depois de mencionar para seu guia turístico
que havia lutado na guerra da Coreia.
Em
dezembro de 2015, o pastor e empresário Hyeon Soo Lim, nascido na
Coreia e naturalizado canadense, foi sentenciado a trabalhar de forma
forçada pelo resto da vida. O motivo: ele estava em uma missão
humanitária no país e criticou a aplicação dos direitos humanos
pelo governo. Na época, Lim tinha 60 anos.
Em
geral, os estrangeiros presos no país são forçados a fazer
confissões emotivas, inflamadas e televisionadas, como a que
Warmbier fez no dia 29. Um exemplo é a "confissão"
de Laura Ling. Ela disse ao jornal The
Oregonian que
seus captores a ameaçaram para que a confissão fosse feita: "Me
disseram que, se o meu perdão não fosse franco, o pior poderia
acontecer comigo".
Assim
como Laura, Merrill Newman também afirma ter sido obrigado a
'confessar'. Depois de solto, ele publicou um texto em que dizia:
"Qualquer um que leu o texto da minha confissão ou que viu o
vídeo sabe que aquelas palavras não eram minhas e que elas não
foram ditas voluntariamente. Qualquer um que me conhece sabe que eu
não teria feito as coisas pelas quais eles me fizeram 'confessar'.
Para demonstrar que eu estava lendo o documento de forma forçada, eu
enfatizei a gramática ruim e a estranha linguagem que os
norte-coreanos criaram para mim".
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