Eterno 'déjà vu', será que estive aqui?

A desesperadora história do jovem que vive preso em um eterno ‘déjà vu’



Caso reacende debate entre pesquisadores sobre as causas do fenômeno




A sensação é familiar e muito provavelmente você também a conhece – aquela estranha impressão de já ter estado em determinado lugar ou já ter vivenciado uma situação específica antes, mesmo que a razão diga que aquilo seja impossível. O déjà vu, termo que em francês significa literalmente “já visto”, é mais comum do que pensamos. Segundo uma pesquisa publicada em 2011, dois terços das pessoas irão experimentá-lo ao menos uma vez na vida. Apesar de ser algo tão frequente em nosso cotidiano, a ciência pouco conhece sobre o fenômeno, justamente por sua natureza efêmera e por ser praticamente impossível de ser reproduzido em laboratório. Ao se aprofundar no assunto, um estudo inédito publicado em dezembro vem intrigando especialistas: ele relata o caso extremo de um jovem britânico que há oito anos sofre dedéjà vu crônico, com episódios tão persistentes que chegam a durar minutos.
Houve uma vez na qual ele foi ao cabeleireiro. Ao entrar, teve uma sensação de déjà vu. Depois, teve um déjà vu do déjà vu. Ele não conseguia pensar em mais nada”, contou a BBC o neuropsicólogo Chris Moulin, coautor do artigopublicado no periódico Journal of Medical Case Reports. O quadro é tão intenso a ponto de fazer com que o rapaz de 23 anos evite assistir televisão, ouvir rádio ou ler jornais, pois ele sente que “já encontrou tudo aquilo antes”. Como em um filme de suspense ou de ficção científica dos mais inquietantes, ele passou um terço de sua vida preso em uma espécie de paradoxo temporal, que fica ainda mais forte conforme o paciente vai se abalando com a situação. Mas o que, afinal, provoca o descontrole deste sentimento de repetição?

Os pesquisadores acreditam que seja a ansiedade. Exames cerebrais não apontaram nenhum problema neurológico, o que levou à conclusão de que se tratava de uma patologia psicológica. Outra teoria concebe a sensação como algo análogo a um “espasmo” cerebral, ou um “curto-circuito” momentâneo nos neurônios da região do cérebro relacionada à memória e à familiaridade. Especialistas sugerem ainda que o déjà vu seja o resultado natural de ver coisas genuinamente familiares a suas experiências, como a forma de um prédio ou de um quarto, o que dispara uma memória falsa. O que a ciência já sabe é que o fenômeno é surpreendentemente mais comum em jovens, além de pessoas portadoras de epilepsia e demência. “Algumas pessoas com déjà vu persistente te cumprimentam como se você fosse um velho amigo, mesmo que nunca tenham te visto antes”, diz Moulin.

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