Comida é tudo; tudo que vc precisa saber!!

Comida é tudo

Foi ele que espalhou humanidade pelo mundo e que possibilitou a civilização, a cultura e a industrialização - mas ele também nos transformou em uma comunidade de gordos.

Nosso apetite é mais forte que nós. Foi ele que espalhou humanidade pelo mundo e que possibilitou a civilização, a cultura e a industrialização - mas ele também nos transformou em uma comunidade de gordos. Conheça essa história e entenda como a indústria se aproveitou da nossa fraqueza
A porta do forno se abre e o aroma de pão francês invade as narinas. A visão daquela montanha de pães na cesta desperta fantasias. Manteiga fresca derretendo entre os picos e vales do delicado miolo. Um monte branco de requeijão erguido sobre um pedaço da casca dourada e crocante. Que atire o primeiro tomate quem nunca foi seduzido pelo pão quentinho numa manhã de padaria. Poucos alimentos são tão simples, tão corriqueiros e, ao mesmo tempo, tão apetitosos. Como é que essa mistura banal de farinha, sal, óleo e fermento pode exercer tamanho poder sobre nossos sentidos?
O apetite é, antes de tudo, um instinto. Precisamos comer para sobreviver, assim como precisamos respirar, beber e dormir. É um instinto tão poderoso que pessoas esfomeadas não conseguem pensar em outra coisa senão em comida. Mas os seres humanos, ao longo de sua evolução, transformaram o ato de comer em algo muito mais significativo que a mera satisfação de uma necessidade. Comer é prazer. É uma das mais ricas experiências sensoriais que podemos ter. Comer é, também, um ato emocional. Traz conforto, tranqüilidade e, às vezes, culpa. Influencia nosso humor e disposição. Para alguns, chega a ser uma experiência espiritual.
Nossa sociedade se mobiliza em torno da comida. A cultura de cada país se define, umas mais que outras, por sua gastronomia. Quase não reparamos nisso, mas a produção, a distribuição e o preparo de alimentos são, há muito tempo, as principais atividades econômicas da humanidade. E nossa relação com a comida ainda comanda boa parte da atenção de governos, da mídia, da comunidade científica e de outras instituições.
O apetite e a maneira pela qual o satisfazemos são questões muito mais complexas do que se pode imaginar. Antes que você dê uma mordida num hot dog completo, ocorrem dezenas de transações comerciais enquanto centenas de fatores ambientais influenciam milhares de processos biológicos e psicológicos no seu corpo. Compreender como essas forças interagem e como são capazes de nos afetar pode ter um profundo impacto na qualidade e quantidade de vida que teremos. E, afinal, quanto mais vivermos, mais poderemos comer.
No princípio era a fome
A relação das pessoas com a comida era bem mais direta na Pré-História. Não havia lavouras nem mercados. Para comer, tínhamos que caçar animais ou coletar plantas, raízes e frutas que nos dessem sustento. Não bastasse o esforço exigido para realizar essas atividades, a mãe natureza nos obrigava a migrar a cada estação, em busca de alimento. Com o advento da agricultura e a domesticação de alguns animais há 8 mil anos, conseguimos nos estabelecer. A tarefa de nos alimentarmos passou a exigir menos tempo e menos esforço. Os períodos de escassez de comida, embora persistissem, se tornaram cada vez menos freqüentes. Aprendemos a conservar alimentos salgando-os, secando-os e defumando-os.
Mas as mudanças mais expressivas em nossa relação com a comida ocorreram ao longo dos últimos mil anos. A evolução tecnológica e científica, a urbanização, a industrialização e a automação foram tornando os alimentos cada vez mais variados e disponíveis. Aliás, a busca por mais e melhor comida foi o motor de muitos processos históricos. As grandes navegações do século 14, que levaram à descoberta das Américas pelos europeus, buscavam caminhos para as Índias, de onde vinham os temperos. “Durante o período moderno, o capitalismo mercantil se expandiu traficando as especiarias, e, mais tarde, o açúcar, do mundo colonial para a Europa”, escreveu o historiador Henrique Carneiro, no livro Comida e Sociedade. Também a migração forçada dos africanos para trabalharem como escravos foi resultado direto da crescente demanda européia por açúcar.
Os avanços dos últimos 200 anos e sua aplicação à alimentação foram essenciais para o desenvolvimento da civilização moderna. A conservação de alimentos em recipientes hermeticamente fechados, a pasteurização e a refrigeração aumentaram a vida útil dos alimentos, acabaram com a escassez e permitiram, entre outras coisas, o surgimento de grandes cidades. É possível dizer que a proliferação da nossa espécie nesse planeta se deve quase exclusivamente ao fato de termos dominado técnicas de produção e distribuição de alimentos...
A indústria da engorda
Mas a crescente incidência de obesidade entre os seres humanos não é conseqüência apenas da quantidade de alimentos que temos à nossa disposição. É também fruto da qualidade deles. Isso porque a comida que abunda hoje não é a mesma que faltava na época de nossos ancestrais. Por exemplo, a carne de um animal selvagem, do tipo que nossa espécie consumia na Pré-História, tem apenas 3% ou 4% de gordura, enquanto um corte de primeira de carne de vaca pode conter 30% ou mais. Nós engordamos o gado pela forma como o alimentamos e por meio da vida sedentária que lhe proporcionamos. Outro exemplo é o trigo. A farinha de trigo que comemos hoje passa por tamanho grau de refinamento que é tolhida de suas fibras naturais. Isso faz com que se transforme em energia muito mais fácil e rapidamente por nossos corpos. A mudança radical da própria comida, portanto, é conseqüência direta das tecnologias que aplicamos para torná-la mais abundante.
Os alimentos, hoje, são bens de consumo. Essa condição acelerou sua metamorfose. Somos bombardeados com mensagens sobre novos e deliciosos petiscos que não podemos deixar de experimentar (mensagens que, graças ao nosso passado de escassez, somos incapazes de ignorar). Isso ocorre porque as indústrias de alimentos têm, essencialmente, dois objetivos: fazer cada vez mais produtos e nos levar a consumir mais de cada um deles. Não são esses os objetivos de qualquer indústria? Nos mercados globalizados e competitivos de hoje, esse imperativo as incentiva a tomar decisões que pouco têm a ver com a saúde dos consumidores. E não há qualquer lei ou regulamentação governamental nesse sentido. Essas indústrias são incentivadas a se preocuparem apenas com a segurança alimentar, não com longevidade. Ou seja, elas se esforçam para evitar que seus produtos causem uma dor de barriga, mas não dão a mínima se o consumo constante causa diabetes. As empresas não fazem isso de propósito.
E agora, o que vai ser?
O que fazer diante de um quadro tão complexo? A resposta simples, porém desagradável, é que a solução depende de cada um de nós. Cada um precisa encontrar a receita de alimentação e exercício que lhe proporcione um equilíbrio aceitável entre saúde e prazer. Para tanto, precisamos entender e aceitar as limitações de nossos corpos e mentes e saber abrir mão de prazeres que a evolução nos ensinou a desejar. Sobretudo, precisamos aceitar que não há, nem haverá tão cedo, soluções milagrosas. Vivemos em uma época privilegiada da história da humanidade em que há abundância de alimento e de informação. Mas, se vivermos como se não houvesse amanhã, provavelmente não haverá. O que talvez nos falte é a sabedoria e a disciplina para administrar essa abundância de forma a termos vidas mais longas e felizes. E nas quais seja possível apreciar um pãozinho francês com manteiga e, mesmo assim, ser saudável.

Querem que eu engorde

Os mecanismos que a natureza instalou em nós que não nos deixam perder peso
Há dezenas de hormônios responsáveis por regular nosso apetite. Originalmente, eles servem para não nos deixar morrer de fome. Mas acabam nos engordando.
Grelina
Onde é produzida? - No estômago
Qual sua função? - Estimular o apetite
Como funciona? - Os níveis de grelina aumentam gradualmente à medida que o estômago se esvazia e caem rapidamente após a refeição
Qual o problema? - Pesquisadores descobriram que o nível de grelina aumenta em pessoas que perderam peso por meio de dietas. Como conseqüência, a fome aumenta
Colesistoquina
Onde é produzida? - No intestino delgado
Qual sua função? - Ajuda a evitar a sobrecarga do sistema digestivo
Como funciona? - Seus níveis aumentam quando a comida passa para o intestino delgado, o que diminui o apetite. É ela que dá a sensação de estar empanturrado
Qual o problema? - Ela pára de agir assim que o intestino está liberado, abandonando você à própria sorte para resistir às tentações
PYY3-36
Onde é produzido? - No intestino grosso
Qual sua função? - Evitar que ocorra sobrecarga no sistema digestivo
Como funciona? - Quanto mais cheio o intestino, maior o nível de PYY na corrente sanguínea. É por causa dele que você sente menos fome no dia seguinte a uma orgia gastronômica
Qual o problema? - Ele não regula seu peso ou sua saúde, só o funcionamento do sistema digestivo
Leptina
Onde é produzida? - Nas células de gordura.
Qual sua função? - Ajuda a regular o estoque de energia do corpo
Como funciona? - É produzida constantemente. Quando ocorre uma perda de gordura, o nível do hormônio no corpo cai e o apetite aumenta.
Qual o problema? - Pessoas gordas têm nível elevado de leptina no corpo e um aumento nesse nível não as faz emagrecer. Mas, quando perdem peso rapidamente, o corpo reage como se estivesse passando fome
Insulina
Onde é produzida? - No pâncreas
Qual sua função? - Impedir o excesso de calorias
Como funciona? - Produzida quando há excesso de glicose no sangue, seus efeitos incluem a inibição do apetite e a aceleração do metabolismo
Qual o problema? - O cérebro é bem menos sensível à insulina que à leptina

Maquiagem light

Não acredite em tudo oque você lê no rótulo. Produtos"light" podem ser ilusões
Na busca do oásis do prazer sem culpa, muitos acabam iludidos por miragens. Exemplo disso são muitos dos alimentos “light”. Acredite: boa parte deles engorda. Por isso, é preciso ler os rótulos com atenção e não se deixar enganar por letras garrafais. Conheça alguns produtos que, embora estejam de acordo com a lei, apresentam benefícios questionáveis para o consumidor.
Produto: Achocolatado Light
Benefício destacado no rótulo: “43% menos calorias”
Onde está a ilusão? Para chegar a essa redução calórica, o rótulo compara um copo de leite integral com 25 g de achocolatado normal contra 16 g de achocolatado light com leite desnatado. Assim fica fácil
Produto: Pão Integral Light
Benefício destacado no rótulo: “Light”
Onde está a ilusão? A fatia do pão light tem 25 g enquanto a do normal tem 32 g. Além disso, a classificação é alcançada pela redução de gordura, que representa só 5% das calorias do pão. Os carboidratos continuam praticamente os mesmos
Produto: Leite condensado e Maionese Light
Benefício destacado no rótulo: “Menos calorias”
Onde está a ilusão? Embora tragam redução calórica efetiva em relação a suas versões normais, esses produtos continuam tendo mais calorias que a mesma quantidade de picanha ou de sorvete
Produto: Óleos Vegetais
Benefício destacado no rótulo: “Sem colesterol”
Onde está a ilusão? Nenhum óleo vegetal tem colesterol – só gordura animal tem esse componente. Colocar isso no rótulo é como escrever “não contém material radioativo” num sabonete

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