Denúncia criminal contra ex-presidente nas próximas semanas
Ex-presidente Lula será denunciado criminalmente nas próximas semanas
Novas perícias criminais e análises de documentos apreendidos pela Polícia Federal vão ampliar as frentes de investigações, que voltarão a ser conduzidas pela força-tarefa da Procuradoria, em Curitiba
Luiz
Inácio Lula da Silva começa a ser denunciado criminalmente, nas
próximas semanas, ao juiz federal Sérgio Moro por suposto
envolvimento no esquema de cartel e corrupção na Petrobras alvo da
Operação Lava Jato. Novas perícias criminais e análises de
documentos apreendidos pela Polícia Federal, na 24ª fase (Operação
Aletheia) deflagrada em 4 de março, que teve como alvo o
ex-presidente, vão ampliar as frentes de investigações, que
voltarão a ser conduzidas pela força-tarefa da Procuradoria, em
Curitiba.
O
ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal
Federal, decidiu nesta segunda-feira, 13, remeter para Curitiba os
três inquéritos que têm Lula como alvo. São apurações que
investigam corrupção e lavagem na compra e reforma de um sítio em
Atibaia (SP) e de um tríplex no Guarujá (SP) e em recebimentos via
Instituto Lula e empresa de palestra LILS Palestras e Eventos. São
essas frentes de apuração iniciadas em Curitiba que resultaram na
Operação Aletheia, em 4 de março, quando o ex-presidente foi
conduzido coercitivamente para depor. Os autos foram enviados para
Brasília, após divulgação por Moro, em 16 de março, de escuta em
que o petista conversava com a presidente afastada Dilma Rousseff.
Teori rejeitou o uso do material como prova.
Com
o retorno das investigações da Lava Jato contra Lula para Curitiba,
o maior risco que o ex-presidente enfrenta não é uma prisão
cautelar (temporária ou preventiva), avaliam investigadores e
defesas ouvidos em reservado. O problema é jurisprudência criada
pelo Supremo, em março, que permitiu a prisão imediata de
condenados em segundo grau – sem a necessidade, vigente até março,
de se aguardar o transitado em julgado do processo. A avaliação dos
envolvidos nos processos é que com a nova regra, se condenado por
Moro até o início de 2017, Lula fica passível de ter um pedido de
execução de pena de prisão ainda em 2018, numa eventual manutenção
de sentença da Lava Jato no Tribunal Regional Federal da 4ª Região.
Denúncias
A
força-tarefa da Lava Jato, em Curitiba, considera ter as provas para
levar o petista ao banco dos réus por envolvimento no esquema de
corrupção e lavagem de dinheiro na Petrobras, conforme revelou a
reportagem, em 23 de abril. Os casos da compra e reforma do Sítio
Santa Bárbara, em Atibaia (SP), e do tríplex no Edifício Solaris,
no Guarujá, integram o primeiro pacote. Os procuradores, no entanto,
não fecharam questão da forma que as denúncias serão
apresentadas.
No
caso do sítio, por exemplo, existem três acusações que podem ser
unificadas ou apresentadas separadamente. Uma principal, sobre a
compra e reforma da propriedade, pelas empreiteiras Odebrecht e OAS e
pelo pecuarista e usineiro José Carlos Bumlai. E outras que tratam
da mudança e do armazenamento de bens e outra sobre a instalação
de uma antena da OI, próxima do imóvel.
São
esperadas ainda outras acusações, como as decorrentes da delação
premiada do ex-senador Delcídio Amaral (sem partido-MS), que
envolveu Lula na trama para comprar o silêncio do ex-diretor da
Petrobras Nestor Cerveró. Esse inquérito permanece ainda no
Supremo.
A
denúncia principal, no caso do primeiro pacote, apontará a família
do ex-prefeito de Campinas (SP) e amigo de Lula Jacó Bittar (PT)
como “laranja” na ocultação da propriedade, adquirida em 2010
pelo valor declarado de R$ 1,5 milhão. Os registros de escritura em
nome dos donos oficiais, um “contrato de gaveta” em nome do
ex-presidente e da mulher, Marisa Letícia, encontrado nas buscas e
depoimentos dos investigados farão parte da acusação.
Nesse
item, a força-tarefa em Curitiba deve acrescentar novos dados que
foram descobertos logo após a deflagração da Operação Aletheia e
antes da remessa dos autos para o STF. Uma delas é o uso de uma
empresa – PDI Processamento Digital de Imagem – que pertence a
Kalil Bittar, sócio de Fabio Luis Lula da Silva, o Lulinha. Ele é
irmão de Fernando Bittar, um dos donos, na escritura, do Sítio
Santa Bárbara, em Atibaia (SP), que segundo os investigadores é do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A empresa tem sede na Barra
da Tijuca, no Rio de Janeiro, e não tinha entrado ainda para o radar
da Lava Jato, que apura os negócios de familiares e amigos de Lula –
por suspeita de ocultação patrimonial e lavagem de dinheiro.
Os
procuradores apontarão que “o ex-presidente da República tinha
ciência do estratagema criminoso e dele se beneficiou”. Segundo
sustentará a denúncia, as etapas de aquisição, reforma e
decoração do sítio em Atibaia “revelam operações sucessivas de
lavagem de dinheiro no interesse de Luiz Inácio Lula da Silva”. A
origem ilícita dos recursos empregados na compra, reforma e
decoração do imóvel, advindos de crimes antecedentes praticados
pela Odebrecht, OAS e Usina São Fernando (de Bumlai) integram os
elementos que apontarão os estratagemas para dissimulação e
ocultação do negócio.
Tríplex
A
denúncia do tríplex no Guarujá, que teria sido reservado e
reformado pela construtora OAS para Lula, também pode integrar o
primeiro bloco de acusações contra o ex-presidente. O dono da
empreiteira, José Aldemário Pinheiro, o Léo Pinheiro, negocia
delação com a Procuradoria desde o início do ano, sem sucesso. Ele
pode esclarecer o caso.
Lula
será denunciado nesse negócio por lavagem de dinheiro, sendo
beneficiado pela OAS, uma das líderes do cartel que atuava
Petrobras, com a promessa de entrega e a decoração do imóvel com
dinheiro oriundo de corrupção.
No
caso do tríplex, a denúncia é discutida porque ela tem dois outros
processos relacionados. Um deles, é o da Operação Triplo X, que
apurou a lavagem de dinheiro em outras unidades habitacionais da OAS,
adquiridas da falida Bancoop (cooperativa habitacional do Sindicato
dos Bancários de São Paulo). Outra é a denúncia, com pedido de
prisão de Lula, encaminhado pela Justiça Estadual paulista para o
juiz Sérgio Moro.
O
inquérito considerado o mais incipiente é o que trata das
palestras, pós-Presidência, via empresa LILS, Palestras, Eventos e
das doações ao Instituto Lula. Nessa frente, um delator que
confirme que os repasses e pagamentos por palestras podem ter
ocultado propina é essencial para investigadores.
Os
documentos recolhidos na Operação Aletheia, nesses endereços, e na
casa de Lula, dos filhos e do amigo Paulo Okamoto, presidente do
Instituto Lula, determinarão o ritmo de andamento do inquérito.
Quebra-cabeça
Até
março, procuradores da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba
consideravam estar a um delator de completar o quebra cabeça
acusatório contra Lula – como se tivessem o cenário da imagem já
definido, restando apenas uma peça para completar o desenho. As
delações do ex-líder do governo no Senado Delcídio Amaral e do
ex-deputado Pedro Corrêa (PP-PE) ajudaram a definir esse cenário,
em que Lula é pintado pela força-tarefa como alguém com
participação ativa no esquema de sistematização da corrupção no
governo. Além do fatiamento político entre partidos da base – PT,
PMDB, PP e PTB -, teriam sido criadas regras para a propina. Com o
esquema teria sido montada a base de sustentação para a
governabilidade, uma versão ampliada do mensalão, e pagos valores
também para a oposição.
Defesa
O
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgou nota, por meio de
sua assessoria de imprensa:
“Reafirmamos
que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sempre agiu dentro da
lei. Não é dono nem do sítio de Atibaia, nem do apartamento do
Guarujá, como está registrado em escrituras. Todos os bens do
ex-presidente estão devidamente declarados.
O
MPF tem conhecimento, em virtude de provas documentais, de que o
sítio foi comprado com recursos provenientes de Jacó Bittar e de
seu sócio Jonas Suassuna; que Fernando Bittar e Jonas Suassuna
custearam, com seu próprio patrimônio, reformas e melhorias no
imóvel; que Fernando Bittar e sua família frequentaram o sítio com
a mesma intensidade dos membros da família do ex-presidente Lula,
estes últimos na condição de convidados.
O
ex-Presidente Lula e seus familiares foram submetidos a uma ilegal
devassa por decisões do juiz Sérgio Moro, a pedido do MPF. A
despeito disso, não conseguiram localizar qualquer elemento concreto
que pudesse embasar uma acusação – seja em relação à
propriedade do imóvel, seja em relação às reformas feitas no
imóvel.
É
muito grave, especialmente diante do histórico acima, a informação
de que alguns membros do MPF, teriam antecipado a jornalistas de “O
Estado de S. Paulo” e outros meios de imprensa que pretendem
apresentar denúncias em série contra o ex-Presidente Lula, seus
familiares e amigos.
Tal
conduta, se confirmada, representará mais um verdadeiro atentado à
Constituição Federal, pois alguns membros do MPF estarão
utilizando de um amplo poder que lhes foi conferido para ferir a
dignidade de pessoas e para tentar subverter o princípio da
presunção de inocência, não só mediante a formulação de
denúncias contra pessoas que sabem serem inocentes, mas ao darem
publicidade antecipada a esse ato.
Configurará,
ainda, um atentado a Tratados Internacionais dos quais o Brasil é
signatário, que asseguram, dentre outras coisas, o direito à
integridade pessoal – física, psíquica e moral – e a presunção
de inocência, inclusive como regra de tratamento, impedindo que seja
feito qualquer juízo moral antecipado, fundado em situações
juridicamente ainda não definidas.
Por
isso, caso a informação publicada pelos jornalistas de “O Estado
de S. Paulo” seja confirmada, serão tomadas todas as providências
para restabelecer as garantias constitucionais e aquelas
estabelecidas nos Tratados Internacionais e, ainda, para que sejam
punidos todos os agentes que, independentemente do cargo de ocupam,
insistem em desrespeitar o segredo de justiça e as medidas
estabelecidas pela mais Alta Corte do País.
Matéria na íntegra através do link: http://istoe.com.br/ex-presidente-lula-sera-denunciado-criminalmente-nas-proximas-semanas/?platform=hootsuite
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