Famílias mais ricas em Florença são as mesmas desde 1427
Famílias mais ricas de Florença são as mesmas em 1427 e 2011
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| PROTEGIDOS PELO TEMPO:O INTERIOR DA GRUTA DE BERNARDO BUONTALENTI NOS JARDINS DE BOBOLI EM FLORENÇA, ITÁLIA. |
Quem
anda pelas ruas cheias de arte e história de Florença, na Itália,
tem a sensação frequente de que os últimos séculos não
aconteceram.
E
em termos de mobilidade social, talvez não tenham acontecido mesmo,
de acordo com um estudo
publicado recentemente no VoxEU,
portal do centro de pesquisa de políticas públicas da União
Europeia.
Guglielmo
Barone e Sauro Mocetti, dois pesquisadores do Banco Central do país,
partiram dos registros dos pagadores de impostos
na
cidade em 1427, que estão disponíveis online e incluem sobrenomes,
profissões, rendimentos e riqueza.
Depois,
compararam com os mesmos tipos de dados para 2011 e viram que as
dinastias no topo da pirâmide eram as mesmas de seis séculos atrás.
"Estes
resultados são ainda mais surpreendentes considerando as enormes
reviravoltas políticas, demográficas e econômicas que ocorreram
através de um período tão longo", diz o texto.
Eles
notam que a probabilidade de pertencer hoje a certas profissões
(como médicos e advogados) é maior quando seus ancestrais já eram
parte deste grupo, o que sugere uma potencial forma de transmissão
dessa riqueza.
Outros
estudos
Os
estudos da chamada "mobilidade intergeracional" sempre
identificaram uma relação forte na transmissão de status social
entre pais e filhos, mas concluiam que o efeito era dissipado através
de várias gerações.
Recentemente,
isso vem sido questionado. Também usando sobrenomes como base, os
pesquisadores Gregory Clark e Neil Cummins encontraram
uma persistência forte no
status social de famílias inglesas através de 28 gerações entre
1170 e 2012.
"O
status social é mais fortemente herdado do que até a altura. Esta
correlação é constante através dos séculos, sugerindo uma física
social de fundo que é surpreendentemente imune à intervenção
governamental", diz o estudo.
Clark
depois publicaria o livro "The Son Also Rises", no qual
expande o método para vários países e encontra resultados
semelhantes até em lugares como a China, que passou pela Revolução
Cultural de Mao Tsé-Tung e décadas de socialismo.
Ele
arrisca uma tese polêmica para o fenômeno: o sucesso econômico
pode estar relacionado com a transmissão de certas características
genéticas.
"Pode
ser uma combinação de genes, ou um gene único, mas não há nada
que exclua a possibilidade de que os bem-sucedidos economicamente do
mundo moderno são geneticamente diferentes de quem não é membro
desse grupo", diz
ele em entrevista para a PBS.
O
raciocínio entra em um território determinista perigoso, mas Clark
não diz que a falta de mobilidade justifica o status quo.
Pelo
contrário: já que os "mais capazes" ascenderiam de
qualquer forma, políticas redistributivas poderiam ser feitas sem
grandes perdas econômicas.
Um
ponto importante: o estudo de Barone e Mocetti destaca que a
mobilidade em Florença era praticamente zero no século XVI e só
começou a se mexer um pouco no século XX.
Talvez
o futuro mostre não que a desigualdade atual já foi selada por
nossos ancestrais, e sim que apenas demoramos demais para começar a
enfrentá-la.
Olhando para o abismo
A
desigualdade foi por muito tempo relegada às margens do debate
econômico, mas isso está mudando.
Um
dos motivos é o próprio aumento do fosso entre ricos e pobres,
especialmente no mundo desenvolvido, detalhado no improvável
best-seller "Capital no Século XXI", de Thomas Piketty.
Também
ganhou força a hipótese de que a desigualdade excessiva prejudica a
economia e o crescimento como
um todo, sustentada
por novos trabalhos acadêmicos.
Myles
Little, um editor de fotografia em Nova York, entrou para o debate
reunindo fotografias que lançaram seu flash sobre o problema.
Disso
saiu uma exposição que já passou por China, Dubai, Alemanha,
Nigéria, Guatemala, Bósnia e Herzegovina e Chicago e agora segue
para Austrália, País de Gales e Etiópia.
O
livro,
realizado com financiamento coletivo,
conta com uma contribuição deJoseph
Stiglitz,
vencedor do prêmio Nobel da Economia.

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