Inteligência Artificial X Sarcasmo
A Inteligência Artificial vai matar o sarcasmo
O
mundo está ficando chato? Imagina quando seu senso de humor for
igual ao do Google Now
A
Inteligência Artificial está cada vez mais avançada - e já
aprendeu a nos imitar. A Siri, da Apple, é capaz de entender seu
padrão normal de fala e faz até piadinhas
com Game of Thrones.
O próximo passo é a conversa com um bot
se
tornar indistinguível de um papo com outro ser humano.
Segundo
a psicóloga israelense Liraz Margalit, que escreve para o site
Psychology Today,
quando interagimos com A.I.s (entidades de inteligência artificial)
falantes, nosso cérebro processa a interação virtual como se fosse
real - inclusive atribuindo características humanas aos chatbots.
É a mesma coisa que fazemos com animais de estimação, uma
tendência natural chamada de "antropomorfismo".
O
problema é que nossa relação com as A.I. pode mudar a forma como
conversamos uns com os outros - e empobrecer a linguagem.
Um
bate papo humano não é marcado só por palavras. O tom de voz e as
expressões faciais complementa o significado do que está sendo
dito. Até por isso, é muito mais fácil acontecer um mal
entendido pela internet - falta olhar nos olhos de quem está
falando.
Já
os robôs não precisam se envolver emocionalmente nem interpretar
sinais não verbais. Simplificamos nossa linguagem ao tratar com eles
e os dois lados se compreendem facilmente. É aí que a história
complica.
O
cérebro humano tem a tendência evolutiva de preferir a
simplificação no lugar da complexidade, o que Margalit chama de
"preguiça cognitiva". Nossas interações cognitivamente
simples com os robôs podem, então, estimular a construção de um
novo modelo mental de interação social.
Nesse
novo formato, não cabe uma forma de comunicação mais tênue e mais
difícil de interpretar, que depende totalmente dos sinais não
verbais, como o sarcasmo e a ironia.
Esse
empobrecimento do bate papo ainda é o melhor dos cenários. A grande
preocupação da psicóloga tem mais a ver com o filme Her: que a
gente substitua relações humanas por relações com inteligência
artificial.
E
há muitos motivos para isso. Em primeiro lugar, falando com a Siri
você é capaz de atingir seu objetivo - seja ele fazer uma pesquisa,
saber sobre o tempo ou simplesmente ter a sensação de companhia -
sem custo nenhum, de forma absolutamente conveniente. Você não
precisa ser educado, sorrir, se envolver nem se colocar no lugar do
outro.
Além
disso, todas as relações envolvem jogo de poder. Só que, no caso
da Inteligência Artificial, você é sempre o "chefe", e
está na posição dominante - afinal, esse companheiro virtual foi
programado exclusivamente para te servir. "A combinação entre
inteligência, lealdade e fidelidade é irresistível à mente
humana?, explica Margalit. Isso alimenta nosso egoísmo primitivo:
podemos ser ouvidos sem ter que escutar.
Aí
sim vai dar para dizer que "o mundo está ficando chato":
um monte de Sheldons, mimados e alheios à qualquer sarcasmo,
conversando entre si e com as máquinas, sem nenhuma plateia capaz de
entender a ironia da situação.
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