Navio viking atravessa o Atlântico à moda antiga
Navio viking atravessa o Atlântico à moda antiga - e tem de pagar taxa de R$ 1,3 milhão
Réplica
arqueológica refez o trajeto milenar dos exploradores nórdicos, mas
arranjou problemas com a guarda costeira americana
O
Draken
Harald Hårfagre é
o maior navio viking da atualidade, com 34,5 metros de comprimento, 8
de largura e um mastro de 24 metros de altura. O barco é uma obra de
arte da arqueologia: a construção dele, que ficou pronto em 2012,
foi baseada em tudo que se sabe sobre a cultura naval nórdica, dos
materiais às técnicas de montagem. Até seu nome é uma homenagem à
história norueguesa: draken significa
dragão, enquanto Harald Hårfagre foi o rei que uniu os povos
nórdicos para criar um país.
A
missão da embarcação é recriar a viagem transatlântica de Leif
Eriksson, explorador dinamarquês que teria chegado à América do
Norte no ano 1.000, 492 anos antes de Cristóvão Colombo descobrir
oficialmente o continente. Eriksson também é famoso pelo
descobrimento da Groenlândia. A viagem empolgou voluntários do
mundo todo: mais de 4 mil pessoas se inscreveram para compor a equipe
de 32 marinheiros do Draken.
Mas
existe um motivo para a construção naval ter evoluído nos últimos
mil anos: os navios vikings não eram nada práticos nem seguros.
Logo no começo da viagem, o Draken, só com suas velas e remos,
teve grandes dificuldades para atravessar regiões cheias de icebergs
e ondas revoltas no norte do Atlântico. A travessia partiu da
Noruega em 26 de abril e só terminou no dia 1º de junho, quando a
embarcação chegou a Newfoundland, no Canadá.
A
equipe conseguiu chegar com esforço até o continente. O plano era
participar de exposições marítimas no Canadá e nos EUA e terminar
o tour em Duluth, Minnesota, em um grande festival. Mas aí o barco
encontrou um inimigo bem pior que os icebergs: a burocracia.
A
região americana dos Grandes Lagos exige que o barco viking contrate
um piloto licenciado para navegar as águas da região. Como é um
navio pequeno para os padrões comerciais, a equipe do Draken Harald
Hårfagr acreditou que conseguiria uma dispensa dessa exigência,
como acontece em outros países para embarcações com menos de 35
metros de comprimento.
Mas
nos EUA, nem os poderes de Odin resolveram o problema. De acordo com
a guarda costeira americana, a lei federal não permite exceções e
só o Congresso poderia liberar a passagem do barco sem um piloto
local. Os pilotos são pagos por hora e, com uma longa viagem pela
frente, o custo total seria de US$ 400 mil (R$ 1,3 milhão). O barco
foi construído e é mantido por uma organização sem fins
lucrativos, que já afirmou não ter como arcar com a despesa.
O
Draken Harald Hårfagr fez sua última parada em Bay City, Michigan,
para uma exposição. Dali para frente, precisa ir para casa na
Noruega ou começar a pagar as taxas de pilotagem. Os ingressos para
os festivais já estão vendidos, então a pressão do público sobre
a guarda costeira para que o navio seja tratado como exceção é
grande.
O
problema é que visitas a navios vikings atraem um público limitado
- a organização do evento de Duluth, um dos maiores, espera faturar
R$ 300 mil - bem menos do que custaria só para o barco chegar lá.
A
esperança dos marinheiros são campanhas de crowdfunding criadas por
americanos de origens nórdicas no Minnesota. A equipe se comprometeu
a percorrer todo o caminho possível com as doações que receber
online
e
nos festivais a caminho de Duluth, onde é a atração principal. Se
a grana acabar no meio do caminho, os vikings modernos vão voltar
tendo deixado apenas uma pequena marca no continente americano - mais
ou menos da mesma forma que seus antepassados fizeram mil anos atrás.
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