A ciência de viver bem

A ciência de viver bem

Pequenas mudanças de atitude podem melhorar sua saúde física, mental e material. Conheça 7 hábitos comprovados cientificamente que você deve adotar para ganhar qualidade de vida - e uma coisa que você não deve fazer.


Use filtro solar. Coma frutas e verduras. Lembre-se do fio dental. Pratique pelo menos uma hora de exercícios físicos por dia. Passe longe do torresminho de bar. Aliás, falando em bar, trate de parar de encher a cara. Aproveite também para largar o cigarro. Beba dois litros de água filtrada por dia. E durma 8 horas por noite. Leia mais e sempre. Endireite as costas. Aprenda a meditar. Vá ao dentista regularmente. Se beber, não dirija. Faça um check-up por ano. Verifique se suas vacinas estão em dia. Não fique com o rosto colado na tela do computador. Trabalhe menos, divirta-se mais. Encha o prato com verduras, grãos e brotos. Esvazie-o de doces e gorduras. Limpe os ouvidos, mas cuidado com o cotonete. Sexo só com camisinha (aliás, este deveria ser seu mantra). Não dê pipocas aos macacos. Muito menos coma pipocas de desconhecidos.
Seguindo à risca essa lista de cuidados, é bem possível que você tenha uma vida mais saudável. E nem precisamos encher estas páginas com estudos que comprovem tudo o que está dito aí em cima – até porque, convenhamos, você já está cansado de saber. É bem possível, inclusive, que muita coisa daí esteja entre suas promessas para o início do ano. Então, resolvemos engordar seus planos para 2006. Pinçamos 7 outras coisas importantíssimas (mas bem menos óbvias) que você pode fazer – e uma que você NÃO deve fazer – para melhorar consideravelmente seu dia-a-dia. Fora tudo isso que está aí em cima, lógico. O que não der para cumprir, guarde para janeiro de 2017. Ou de 2018, de 2019...
1. Ouça música
Não se culpe se você é daqueles que passam o dia todo com um fone de ouvido cantarolando por aí. A música tem efeitos muito benéficos para a saúde física e mental. Já não é de hoje que os cientistas vêm estudando o fenômeno. Entre outras coisas, a música pode acalmar, estimular a criatividade e a concentração, além de ajudar na cura de uma porção de doenças.
Em 1999, uma pesquisa feita no Instituto de Psicologia da USP mostrou que crianças hiperativas conseguem atingir um grau de concentração muito maior se estiverem ouvindo música – e não estamos falando de jazz ou bossa-nova, mas de rock pesado. A trilha sonora da pesquisa, que acompanhou crianças entre 9 e 10 anos, era composta pelo guitarrista sueco Yngwie Malmsteen. Embora muitos roqueiros torçam o nariz para seu heavy metal melódico, é inegável que o cara faz um tanto de barulho.
Pois essa é uma bela resposta aos pais que implicam quando o filho estuda curtindo um som. Que o digam aqueles que aprenderam música desde pequenos. Pesquisas canadenses provaram que crianças que estudam música precocemente têm desenvolvimento intelectual melhor do que as que não tiveram nenhum contato com ela.
A música é capaz de mudar a freqüência das ondas cerebrais. Já foi provado, por exemplo, que clássicos de compositores como Bach, Beethoven e Mozart deixam as ondas cerebrais com o mesmo comportamento, ou seja, com o mesmo potencial elétrico, de um indivíduo em repouso”, afirma Luiz Celso Vilanova, médico neurologista, professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). “Esse estado é chamado ritmo alfa e ocorre quando a pessoa está muito relaxada ou não está pensando em nada, como em algumas meditações.”
Entre os clássicos citados, o austríaco Wolfgang Amadeus Mozart merece um destaque na sua discografia. O poder do compositor vem sendo alvo de diversas pesquisas. A Universidade da Califórnia em Los Angeles mostrou, no início da década de 1990, que a execução da Sonata para Dois Pianos em Ré Maior aumenta o número de conexões dos neurônios e melhora o raciocínio matemático em estudantes.
Uma vez que nosso organismo também tem um ritmo interno, ao entrar por nossos ouvidos, a música faz contato com este ritmo, interagindo com as atividades biológicas do nosso corpo. É assim que trabalha a musicoterapia, muito aplicada – e com bons resultados – no tratamento de pacientes com mal de Alzheimer, epilepsia, esquizofrenia e depressão, entre outras doenças. “Não existem indicações que comprovem que a música tenha o poder de curar alguém. Mas podemos dizer que ela está diretamente associada à promoção da saúde”, afirma Luiz Celso. Isso significa que ainda não é possível prescrever um Mozart em jejum ou duas doses de Beethoven após as refeições. Feita essa ressalva, é certo que eles podem, sim, trabalhar na prevenção de uma doença que virou epidemia nos dias de hoje: estresse. Até porque está mais do que provado que música relaxa – e muito.
2. Prepare-se para envelhecer
Ninguém gosta muito da idéia de vir a ser velho, mas isso é a melhor coisa que pode acontecer a uma pessoa (pense na outra possibilidade). É bom reservar um tempo desde já para planejar como você pretende que seja sua velhice. Inclusive porque é bem possível que essa fase da sua vida dure bastante tempo. Graças aos avanços no saneamento básico, à descoberta de novas drogas e a fatores ambientais e de prevenção, estamos vivendo cada vez mais. Em 1900, a expectativa média de vida no Brasil ao nascer era de 33 anos. Hoje, já estamos acima dos 70 anos. Estudos demográficos apontam que, em 2025, o brasileiro viverá em média 75,3 anos e, por volta do ano 2050, 2 bilhões de pessoas no mundo terão mais de 60 anos. E, graças a esses mesmos motivos, os velhos estão ficando cada vez mais velhos.
Sendo assim, duas coisas precisam ser preparadas desde já: saúde e finanças. Afinal, ninguém quer viver até os 120 anos vegetando numa cama, sem grana e dando um trabalho danado para o filho de 96 anos.
Para começar, os cuidados para ter um envelhecimento saudável. Valem todos aqueles que falamos lá no início da reportagem – e que certamente você já ouviu milhões de vezes. É preciso dar ouvidos à máxima dos médicos, não há muita saída. “Os sinais de envelhecimento são conseqüência de desgastes físicos e emocionais que sofremos durante a vida. Os principais são o estresse, doenças, fumo, bebida em excesso, consumo de drogas, pouco sono e descuido com o descanso. Os desgastes são cumulativos, por isso, para envelhecer de forma saudável, é preciso tomar atitudes ainda jovem”, diz a médica geriatra Mariana Jacob, do Rio de Janeiro. Portanto, arregace as mangas e comece desde já.
Agora, também é importante pensar como estará sua conta bancária. Se você é daqueles que confiam no INSS, é bom abrir os olhos. O envelhecimento em larga escala da população preocupa as finanças públicas do mundo todo. No Brasil, o déficit da Previdência Social ultrapassará R$ 40 bilhões em 2005 e vem sendo um dos maiores pepinos para os governos. Vá saber como será a aposentadoria daqui a algumas décadas...
Portanto, é melhor tomar outras atitudes, além de, claro, continuar colaborando para o INSS. “O ideal é a estratégia da formiga: guardar uma quantia todo mês e, quando parar de trabalhar, viver desse valor acumulado”, afirma o administrador Ricardo Humberto Rocha. Pegue o lápis e anote a lição que ele ensina: se você começar a guardar dinheiro aos 30 anos, deve pensar em se aposentar 40 anos depois, ou seja, aos 70. Durante esse tempo, deve separar 300 reais todo mês. Aos 70, terá acumulado 300 mil reais (sem projetar a correção monetária). Na pior das hipóteses, isso renderá 0,5% ao mês, ou seja, 1,5 mil reais. Juntando isso a uma aposentadoria do INSS de 3,6 mil reais (o casal), dará uma renda mensal de 5,1 mil reais. “Com 5 mil reais por mês, um casal de idosos deve viver bem: vai gastar 1,5 mil reais entre plano de saúde e remédios e o resto paga o condomínio, a alimentação e o lazer.”
3. Tenha fé
Costuma ser mais feliz quem consegue encontrar um significado para a vida. Esse significado pode estar em qualquer coisa – da filatelia à filantropia. Mas é na religiosidade que a maior parte da população vai buscar essa razão de viver. E encontra. Pesquisas mostram que as pessoas religiosas consideram-se, em média, mais felizes do que as não religiosas. Elas também têm menos depressão, menos ansiedade e índices menores de suicídio.
A fé nos conecta com outras pessoas, dá sentido e propósito para nossa existência, ajuda também na auto-aceitação e sustenta a esperança de que, no final, tudo ficará bem”, diz o relatório de um estudo sobre o assunto do Centro Nacional de Pesquisas de Opinião dos EUA.
O poder da crença pode ir além do conforto espiritual, ajudando a curar doenças e aumentando a longevidade. Uma das razões para tanto passa longe do sobrenatural: a fé traz a reboque uma rotina mais regrada e vínculos mais sólidos com a família e a comunidade. Quem professa uma crença raramente faz bobagens como se embebedar e sair dirigindo a 160 quilômetros por hora.
Existem evidências de que pessoas com atitude positiva e fé têm saúde melhor”, afirma o psiquiatra Frederico Camelo Leão, que defendeu tese de mestrado sobre o assunto no Hospital das Clínicas de São Paulo. “Isso vale tanto para a espiritualidade intrínseca, quando a pessoa é voltada a seus valores internos, quanto a extrínseca, quando a pessoa se associa a grupos e cerimônias. Nos dois casos, há trabalhos que mostram que essas pessoas tendem a pontuar mais em qualidade de vida e na evolução do tratamento de doenças.”
A fé propriamente dita pode ter efeitos benéficos no corpo humano. Já foi comprovado, por exemplo, por meio de uma pesquisa da Universidade Duke, na Carolina do Norte (EUA), que pessoas com fé religiosa conseguem melhorar o funcionamento de seu sistema imunológico. “Ter uma fé ativa é tão fortemente associado à longevidade quanto ao hábito de não fumar”, afirma David Myers, professor de psicologia da Faculdade Hope, em Michigan (EUA).
Mas se você não se sente preparado para ligar-se a algum grupo religioso, não tem problema. A religião não é exatamente a única forma de explorar a fé, muito menos de dar significado à vida. Quem não se identifica com nenhum grupo religioso pode procurar outras crenças. E crer em algo não significa necessariamente ser em Deus. Um ateu convicto pode ter fé em seu próprio papel na história da humanidade, na justiça social, no desenvolvimento sustentável do planeta, na democracia. Ou ainda buscar o significado da vida em algum desafio diferente, como aprender a escalar uma montanha, cozinhar, tocar bateria, fazer mountain bike. Acreditar faz bem. Outro caminho é a prática do altruísmo. Isso, inclusive, já foi testado em laboratório: está comprovado que aumenta os índices de felicidade e bem-estar. Vale visitar uma creche, colaborar com uma ong, inscrever-se em um trabalho voluntário – enfim, fazer qualquer coisa que ajude alguém.
4. Ande mais a pé
Gastar sola de sapato é um dos melhores exercícios que existem, seja para a saúde física, mental, do meio ambiente ou do seu bolso mesmo. Sim, porque para fazer caminhadas você não precisa gastar rios de dinheiro com academias elaboradas, muito menos com personal trainer. Um par de tênis basta. E quando falamos de caminhada, não estamos nos referindo a nada profissional, que exija pista adequada e treinamento. Pode ser no seu bairro, no quarteirão da sua casa, ou até mesmo na escadaria do prédio, na pior das hipóteses.
Os benefícios físicos vão desde a melhora do sistema imunológico, a perda de peso e a oxigenação do corpo a até mesmo o aumento da nossa inteligência, acredite. Segundo artigo publicado na revista científica americana Trends in Neurosciences (“Tendências em Neurociências”), a caminhada aumenta a resistência cerebral e melhora o desempenho de leitura e aprendizado. E mais: beneficia a plasticidade do cérebro – a capacidade que ele tem de se adaptar a novas situações e realizar funções diferentes. Sem contar o efeito no humor. “Andar diminui o estresse e ajuda muito no combate à depressão”, afirma o médico ortopedista Victor Matsudo, consultor da OMS (Organização Mundial da Saúde).
No corpo, a caminhada ajuda a diminuir a gordura intra-abdominal, aquela que se acumula entre as vísceras. É a famosa barriguinha de chope. Ela é considerada a forma mais perigosa de depósito de gordura. Estudos associam diretamente esses tecidos adiposos a vários problemas de saúde – desde ataques cardíacos, problemas coronarianos e hipertensão até a formação de pedras na vesícula biliar.
Mas ainda está dando preguiça? Bem, não é só da forma física que estamos falando – andar a pé pode ser algo muito mais divertido que fazer uns abdominais e uns supinos na academia, por exemplo. Se você resolver tirar apenas uma hora do seu dia para caminhar no seu bairro, vai perceber uma enorme diferença na sua socialização. “Caminhar permite que você observe muito mais as coisas ao seu redor, aproveite a natureza, reflita sobre a vida, pense em histórias, lembre fatos e acontecimentos, faça cálculos, tenha idéias, faça reflexões”, diz Victor. Você vai entrar em lojinhas que nunca percebeu, pedir e dar informações, falar com gente desconhecida (nessas, você pode acabar até conhecendo o amor da sua vida). Às vezes também vai tomar um pouco de chuva e pisar em cocô de cachorro, mas isso faz parte do jogo.
Deixar o carro em casa de vez em quando já pode ser um bom começo para começar a se exercitar. O trajeto pode ser pequeno – uma caminhada de sua casa até a padaria ou à banca de revistas –, mas a diferença já aparece. De quebra, você ainda estará contribuindo para a diminuição da poluição, do trânsito, do consumo de combustível, entre outras coisas. Outra boa idéia é evitar o elevador e as escadas rolantes. São atitudes mínimas, mas que vão começar a colocar seu corpo – e, por tabela, a sua mente – para funcionar.
5. Tenha (pelo menos) um amigo
Todo mundo quer ser feliz, isso é tão verdadeiro quanto óbvio. O psicólogo Martin Seligman, da Universidade da Pensilvânia (EUA), passou anos pesquisando o assunto e concluiu que, para chegar à tal felicidade, precisamos ter amigos. Os amigos, segundo ele, resumem a soma das 3 coisas que resultam na alegria: prazer, engajamento e significado. Explicando: conversar com um amigo, por exemplo, nos dá prazer. Ao mesmo tempo, nos sentimos engajados, porque doamos muito de nós mesmos a ele. E ainda esse bom bate-papo faz com que nossa vida adquira um significado mesmo que seja momentâneo.
O cientista social americano Ronald Inglehart analisou diversas pesquisas sobre qualidade de vida e chegou à conclusão que os ingredientes para uma vida feliz incluem relações próximas. “Os homens têm o que os psicólogos apelidaram de uma profunda necessidade de se sentirem incluídos. Os que são apoiados por amizades íntimas se declararam muito felizes”, afirma.
Outro benefício decorrente de ter amigos é manter a saúde em ordem. De acordo com o psicólogo social David Myers, professor da Faculdade Hope, nos EUA, as pessoas que têm amizades próximas ou são ligadas à sua comunidade (seja de colegas de trabalho, de religião ou de organizações por causas comuns) têm menos possibilidade de morrer prematuramente, se comparadas àquelas pessoas que têm poucos laços sociais. E perder esses laços aumenta o risco de ficar doente. “A amizade libera substâncias hormonais no cérebro que favorecem a alegria de viver e o bem-estar”, diz Roque Theophilo, presidente da Academia Brasileira de Psicologia.
Mas será que todo mundo tem amigos? A resposta não é tão óbvia. Uma das queixas mais freqüentes no divã de analistas é a solidão. Gente que não encontra ninguém para dividir com sinceridade suas angústias. Ou que se sente só mesmo quando rodeada de pessoas – aquela impressão de ter mil amigos, mas na realidade não ter nenhum. É a chamada superficialidade das relações, tão discutida nos dias de hoje.
Segundo o psicanalista Contardo Calligaris, o único jeito de ultrapassar a barreira da solidão é justamente tendo pelo menos um amigo e um amor. Um só de cada, não precisam ser muitos. Mas isso dá um trabalhão dos diabos, não pense você que é fácil.
Contardo propõe uma situação hipotética: “Você é meu amigo e me telefona para jantar. Você passa o tempo todo falando de si mesmo. Quando eu começo a falar de mim, lá pelas tantas, você diz que precisa ir embora, pois acorda cedo no dia seguinte. Tudo bem, na próxima vez não vou aceitar o convite e você se sentirá sozinho.” Isso não é amizade verdadeira. “Não se consegue uma amizade sem generosidade”, afirma o psiquiatra. Para termos pelo menos um amigo, diz ele, precisamos nos livrar daquilo que ele chama de “avareza de si mesmo”. Trocando em miúdos: doar-se, estar disponível, saber trocar. E, principalmente, olhar além do próprio umbigo.
6. Coma devagar
Parece até falatório de mãe, mas os benefícios de diminuir o ritmo das garfadas são incríveis. Para começar, ninguém ganha tempo comendo um sanduíche na frente do computador – o máximo que você ganha são quilos a mais, uma vez que, quanto mais rápido come, mais fome sente. “Existem dois centros que regulam a alimentação no cérebro: o centro da fome e o centro da saciedade”, afirma Arthur Kaufman, coordenador do Prato (Projeto de Atendimento ao Obeso), do Hospital das Clínicas da USP. “O centro da saciedade demora até 20 minutos para mandar uma mensagem ao outro de que você está comendo e está satisfeito. Se você comer muito rápido, vai passar da conta, sentir o estômago estufado antes que seu centro de saciedade tenha tempo de informar seu corpo de que já está bom e você deve parar de comer.” É isso que acontece numa churrascaria rodízio com aqueles que comem na mesma velocidade em que os garçons trazem os espetos.
Isso quer dizer que, se você comer mais devagar, provavelmente vai comer menos sem ter que fazer nenhuma dieta. O que será um ganho danado à sua saúde. Fora a redução do peso e do risco de doenças aliadas à obesidade, há diversas pesquisas que apontam que devemos diminuir a quantidade de comida se quisermos viver mais. Por exemplo, uma experiência conduzida na Universidade de Wisconsin em Madison, nos EUA, mostrou que a redução do consumo calórico entre 30% e 40% fez aumentar a sobrevida de ratos até os 38 anos – isso corresponderia a aproximadamente 114 anos em humanos.
Mas e o prazer de comer? Tem razão, é um dos principais prazeres da vida. Mais um motivo para você comer devagar: vai saborear melhor a comida, apreciar o prato e o momento, e, de quebra, não vai ficar empanturrado. “Não há nenhum problema em comer um hambúrguer e uma porção de batatas fritas, desde que você saboreie o sanduíche, sinta o gosto do que está comendo e comer seja sua atividade principal naquele momento”, afirma Heloísa Mader, representante do Movimento Slow Food em São Paulo.
Em oposição à moda do fast food, o slow food prega que incrementar a qualidade da comida e desfrutá-la com calma é uma maneira simples de fazer o nosso cotidiano mais feliz – conceito, aliás aprovadíssimo pela Associação Dietética Americana. O movimento quer que as pessoas voltem a curtir a refeição, e não comer por compulsão ou como uma forma de compensar a ansiedade. Lembre-se disso quando for buscar um sanduba correndo na padaria para comer entre um trabalho e outro na frente do computador. “Isso é pior ainda. Quando está distraído, você não percebe o sinal do centro de saciedade e passa da conta. E o pior: como não registra a saciedade, dali a 30 minutos vai ter fome de novo”, diz Arthur. E já que o convencemos a comer mais devagar, aproveite para compartilhar as refeições com quem mais gosta – isso não inclui o computador nem a televisão, que fique bem claro.
7. Desligue a TV
Ninguém está dizendo aqui para você nunca mais assistir à televisão. Mas que você poderia diminuir o tempo em frente ao aparelho, isso você poderia. Até porque televisão em excesso não faz bem. Telespectadores inveterados podem ter suas funções cognitivas alteradas, problemas de postura e articulações, além de tornar-se dependentes da telinha: essa é a conclusão de um amplo estudo realizado em 2003 nos EUA pelos pesquisadores Robert Kubey, diretor do Centro de Estudos de Mídia da Universidade Rutgers, em Nova Jersey, e Mihaly Csikszentmihalyi, professor de psicologia da Universidade de Claremont, na Califórnia.
Sim, o hábito de se largar no sofá e assistir a qualquer porcaria que esteja no ar pode deixar as pessoas viciadas no relaxamento que a TV produz. O problema é que essa sensação gostosa vai embora assim que o aparelho é desligado – é igualzinho ao vício em substâncias químicas. O estado de passividade e a diminuição no grau de atenção, no entanto, continuam. Quando vista por mais de 20 horas por semana, a televisão pode danificar as funções do lado esquerdo do cérebro, reduzindo o desenvolvimento lógico-verbal.
Faça uma continha rápida: se você assistir à televisão por cerca de 3 horas por dia, quando chegar aos 75 anos, terá passado 9 anos inteiros da sua vida vendo TV. É tempo para chuchu sem exercitar a mente nem o corpo, o que pode acarretar sérios problemas, desde obesidade a até mesmo doenças degenerativas cerebrais, como demência e mal de Alzheimer.
O cérebro, assim como o corpo, também precisa ser exercitado. Só que ninguém se lembra dele nas academias de ginástica, por exemplo. A diminuição da capacidade mental associada à idade ocorre por causa de alterações nas ligações entre as células cerebrais. Há indícios de que manter o cérebro em atividade ajuda a aumentar as reservas de células e conexões cerebrais. “O que é bom para seu coração é bom para seu cérebro. Tudo aquilo que você fizer para prevenir doenças coronárias também vai ajudar sua cabeça e assim diminuir o risco de desenvolver mal de Alzheimer”, indica a Associação Alzheimer, órgão americano de ajuda e informação aos portadores da doença.
Segundo um estudo publicado na revista científica Nature, ratos e outros roedores estimulados com brinquedos e aparelhos para exercícios desenvolveram células novinhas em folha na região do cérebro envolvida com aprendizado e com a memória. Portanto, mande ver nas atividades físicas. Agora, é lógico, lembre-se de botar a cabeça para funcionar também. Ler, escrever, jogar jogos de tabuleiro, aprender coisas novas, fazer palavras cruzadas, resolver passatempos de lógica: todas essas atividades mantêm seu cérebro ativo e, quem sabe, criam reservas de células e conexões. Estudar sempre algo diferente pode ser um bom jeito de obrigar sua cabeça a pensar mais. Outra idéia que também contribui para romper a inércia cerebral é praticar atividades ao ar livre – no mínimo, elas vão arrancar você do sofá e da frente da televisão.
Não leve nada disso tão a sério
Se você leu esta reportagem até aqui – e levou tudo o que está escrito em consideração – deve estar cheio de tarefas a cumprir. De fato, são dicas que podem ajudá-lo a melhorar consideravelmente seu dia-a-dia. Mas, sinceramente, não precisa tanta rigidez. Se der para fazer tudo, ótimo. Se não der, tudo bem também. E não precisa levar tão a ferro e fogo as milhares de pesquisas que mandam comer isso e fazer aquilo, caindo em depressão profunda se “fracassar” em um ou dois itens. Afinal, são as escapulidas que tornam a vida da gente divertida – ou você acredita mesmo que todas as nutricionistas esguias e saudáveis só comem refeições balanceadas e todos os médicos fazem ginástica todo santo dia? Essas pessoas também capitulam à preguiça, comem demais e xingam a mãe dos outros no trânsito.
Radicalismos e rigidez com regras são um perigo. Podem se tornar uma obsessão e isso não é bom – mesmo que seja por uma vida saudável. O melhor mesmo para a saúde é o equilíbrio, a flexibilidade. “Todos os meus pacientes que mudaram o comportamento e se tornaram mais flexíveis tiveram uma melhora no estado de saúde. Pessoas muito rígidas, controladoras e perfeccionistas tendem a ter mais doenças do coração”, afirma o cardiologista Alan Rozanski, do Departamento de Medicina da Universidade Colúmbia, Nova York. Os oncologistas também vêm avançando em estudos que comprovam ligação entre esse tipo de comportamento humano e o desenvolvimento de câncer – chama-se “padrão biopsicossocial de risco de câncer”. Ele é caracterizado principalmente por pessoas que negam ou suprimem as emoções, são muito racionais e têm um controle muito rígido que as impede de se expressar. Esse perfil diminuiria a competência do sistema imunológico, seja para prevenir o câncer, seja para combatê-lo durante o tratamento, ou para impedir que ele reincida.
Edward Creagan, médico oncologista da Clínica Mayo, em Rochester, EUA, é um ardoroso defensor da flexibilidade para a manutenção da saúde. Mas como chegar até ela? “Ser resiliente não é seguir os clichês de ‘se a vida te deu um limão, faça uma limonada’. Ser resiliente é não ignorar seus sentimentos, suas dores”, diz. “É também perceber que nem sempre você tem que ser forte, você pode pedir ajuda. Esses são fatores fundamentais para lidar bem com o estresse e com as situações ruins da vida. Essa capacidade protege você e seus familiares de doenças como depressão, ansiedade, estresse pós-traumático, doenças cardíacas e diabetes”. Está vendo? Até o corpo agradece. E aí? Vai uma picanha no capricho? Com polenta frita?

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