A ciência de viver bem
A ciência de viver bem
Pequenas
mudanças de atitude podem melhorar sua saúde física, mental e
material. Conheça 7 hábitos comprovados cientificamente que você
deve adotar para ganhar qualidade de vida - e uma coisa que você não
deve fazer.
Use
filtro solar. Coma frutas e verduras. Lembre-se do fio dental.
Pratique pelo menos uma hora de exercícios físicos por dia. Passe
longe do torresminho de bar. Aliás, falando em bar, trate de parar
de encher a cara. Aproveite também para largar o cigarro. Beba dois
litros de água filtrada por dia. E durma 8 horas por noite. Leia
mais e sempre. Endireite as costas. Aprenda a meditar. Vá ao
dentista regularmente. Se beber, não dirija. Faça um check-up por
ano. Verifique se suas vacinas estão em dia. Não fique com o rosto
colado na tela do computador. Trabalhe menos, divirta-se mais. Encha
o prato com verduras, grãos e brotos. Esvazie-o de doces e gorduras.
Limpe os ouvidos, mas cuidado com o cotonete. Sexo só com camisinha
(aliás, este deveria ser seu mantra). Não dê pipocas aos macacos.
Muito menos coma pipocas de desconhecidos.
Seguindo
à risca essa lista de cuidados, é bem possível que você tenha uma
vida mais saudável. E nem precisamos encher estas páginas com
estudos que comprovem tudo o que está dito aí em cima – até
porque, convenhamos, você já está cansado de saber. É bem
possível, inclusive, que muita coisa daí esteja entre suas
promessas para o início do ano. Então, resolvemos engordar seus
planos para 2006. Pinçamos 7 outras coisas importantíssimas (mas
bem menos óbvias) que você pode fazer – e uma que você NÃO deve
fazer – para melhorar consideravelmente seu dia-a-dia. Fora tudo
isso que está aí em cima, lógico. O que não der para cumprir,
guarde para janeiro de 2017. Ou de 2018, de 2019...
1.
Ouça música
Não
se culpe se você é daqueles que passam o dia todo com um fone de
ouvido cantarolando por aí. A música tem efeitos muito benéficos
para a saúde física e mental. Já não é de hoje que os cientistas
vêm estudando o fenômeno. Entre outras coisas, a música pode
acalmar, estimular a criatividade e a concentração, além de ajudar
na cura de uma porção de doenças.
Em
1999, uma pesquisa feita no Instituto de Psicologia da USP mostrou
que crianças hiperativas conseguem atingir um grau de concentração
muito maior se estiverem ouvindo música – e não estamos falando
de jazz ou bossa-nova, mas de rock pesado. A trilha sonora da
pesquisa, que acompanhou crianças entre 9 e 10 anos, era composta
pelo guitarrista sueco Yngwie Malmsteen. Embora muitos roqueiros
torçam o nariz para seu heavy metal melódico, é inegável que o
cara faz um tanto de barulho.
Pois
essa é uma bela resposta aos pais que implicam quando o filho estuda
curtindo um som. Que o digam aqueles que aprenderam música desde
pequenos. Pesquisas canadenses provaram que crianças que estudam
música precocemente têm desenvolvimento intelectual melhor do que
as que não tiveram nenhum contato com ela.
“A
música é capaz de mudar a freqüência das ondas cerebrais. Já foi
provado, por exemplo, que clássicos de compositores como Bach,
Beethoven e Mozart deixam as ondas cerebrais com o mesmo
comportamento, ou seja, com o mesmo potencial elétrico, de um
indivíduo em repouso”, afirma Luiz Celso Vilanova, médico
neurologista, professor da Unifesp (Universidade Federal de São
Paulo). “Esse estado é chamado ritmo alfa e ocorre quando a pessoa
está muito relaxada ou não está pensando em nada, como em algumas
meditações.”
Entre
os clássicos citados, o austríaco Wolfgang Amadeus Mozart merece um
destaque na sua discografia. O poder do compositor vem sendo alvo de
diversas pesquisas. A Universidade da Califórnia em Los Angeles
mostrou, no início da década de 1990, que a execução da Sonata
para Dois Pianos em Ré Maior aumenta o número de conexões dos
neurônios e melhora o raciocínio matemático em estudantes.
Uma
vez que nosso organismo também tem um ritmo interno, ao entrar por
nossos ouvidos, a música faz contato com este ritmo, interagindo com
as atividades biológicas do nosso corpo. É assim que trabalha a
musicoterapia, muito aplicada – e com bons resultados – no
tratamento de pacientes com mal de Alzheimer, epilepsia,
esquizofrenia e depressão, entre outras doenças. “Não existem
indicações que comprovem que a música tenha o poder de curar
alguém. Mas podemos dizer que ela está diretamente associada à
promoção da saúde”, afirma Luiz Celso. Isso significa que ainda
não é possível prescrever um Mozart em jejum ou duas doses de
Beethoven após as refeições. Feita essa ressalva, é certo que
eles podem, sim, trabalhar na prevenção de uma doença que virou
epidemia nos dias de hoje: estresse. Até porque está mais do que
provado que música relaxa – e muito.
2.
Prepare-se para envelhecer
Ninguém
gosta muito da idéia de vir a ser velho, mas isso é a melhor coisa
que pode acontecer a uma pessoa (pense na outra possibilidade). É
bom reservar um tempo desde já para planejar como você pretende que
seja sua velhice. Inclusive porque é bem possível que essa fase da
sua vida dure bastante tempo. Graças aos avanços no saneamento
básico, à descoberta de novas drogas e a fatores ambientais e de
prevenção, estamos vivendo cada vez mais. Em 1900, a expectativa
média de vida no Brasil ao nascer era de 33 anos. Hoje, já estamos
acima dos 70 anos. Estudos demográficos apontam que, em 2025, o
brasileiro viverá em média 75,3 anos e, por volta do ano 2050, 2
bilhões de pessoas no mundo terão mais de 60 anos. E, graças a
esses mesmos motivos, os velhos estão ficando cada vez mais velhos.
Sendo
assim, duas coisas precisam ser preparadas desde já: saúde e
finanças. Afinal, ninguém quer viver até os 120 anos vegetando
numa cama, sem grana e dando um trabalho danado para o filho de 96
anos.
Para
começar, os cuidados para ter um envelhecimento saudável. Valem
todos aqueles que falamos lá no início da reportagem – e que
certamente você já ouviu milhões de vezes. É preciso dar ouvidos
à máxima dos médicos, não há muita saída. “Os sinais de
envelhecimento são conseqüência de desgastes físicos e emocionais
que sofremos durante a vida. Os principais são o estresse, doenças,
fumo, bebida em excesso, consumo de drogas, pouco sono e descuido com
o descanso. Os desgastes são cumulativos, por isso, para envelhecer
de forma saudável, é preciso tomar atitudes ainda jovem”, diz a
médica geriatra Mariana Jacob, do Rio de Janeiro. Portanto, arregace
as mangas e comece desde já.
Agora,
também é importante pensar como estará sua conta bancária. Se
você é daqueles que confiam no INSS, é bom abrir os olhos. O
envelhecimento em larga escala da população preocupa as finanças
públicas do mundo todo. No Brasil, o déficit da Previdência Social
ultrapassará R$ 40 bilhões em 2005 e vem sendo um dos maiores
pepinos para os governos. Vá saber como será a aposentadoria daqui
a algumas décadas...
Portanto,
é melhor tomar outras atitudes, além de, claro, continuar
colaborando para o INSS. “O ideal é a estratégia da formiga:
guardar uma quantia todo mês e, quando parar de trabalhar, viver
desse valor acumulado”, afirma o administrador Ricardo Humberto
Rocha. Pegue o lápis e anote a lição que ele ensina: se você
começar a guardar dinheiro aos 30 anos, deve pensar em se aposentar
40 anos depois, ou seja, aos 70. Durante esse tempo, deve separar 300
reais todo mês. Aos 70, terá acumulado 300 mil reais (sem projetar
a correção monetária). Na pior das hipóteses, isso renderá 0,5%
ao mês, ou seja, 1,5 mil reais. Juntando isso a uma aposentadoria do
INSS de 3,6 mil reais (o casal), dará uma renda mensal de 5,1 mil
reais. “Com 5 mil reais por mês, um casal de idosos deve viver
bem: vai gastar 1,5 mil reais entre plano de saúde e remédios e o
resto paga o condomínio, a alimentação e o lazer.”
3.
Tenha fé
Costuma
ser mais feliz quem consegue encontrar um significado para a vida.
Esse significado pode estar em qualquer coisa – da filatelia à
filantropia. Mas é na religiosidade que a maior parte da população
vai buscar essa razão de viver. E encontra. Pesquisas mostram que as
pessoas religiosas consideram-se, em média, mais felizes do que as
não religiosas. Elas também têm menos depressão, menos ansiedade
e índices menores de suicídio.
“A
fé nos conecta com outras pessoas, dá sentido e propósito para
nossa existência, ajuda também na auto-aceitação e sustenta a
esperança de que, no final, tudo ficará bem”, diz o relatório de
um estudo sobre o assunto do Centro Nacional de Pesquisas de Opinião
dos EUA.
O
poder da crença pode ir além do conforto espiritual, ajudando a
curar doenças e aumentando a longevidade. Uma das razões para tanto
passa longe do sobrenatural: a fé traz a reboque uma rotina mais
regrada e vínculos mais sólidos com a família e a comunidade. Quem
professa uma crença raramente faz bobagens como se embebedar e sair
dirigindo a 160 quilômetros por hora.
“Existem
evidências de que pessoas com atitude positiva e fé têm saúde
melhor”, afirma o psiquiatra Frederico Camelo Leão, que defendeu
tese de mestrado sobre o assunto no Hospital das Clínicas de São
Paulo. “Isso vale tanto para a espiritualidade intrínseca, quando
a pessoa é voltada a seus valores internos, quanto a extrínseca,
quando a pessoa se associa a grupos e cerimônias. Nos dois casos, há
trabalhos que mostram que essas pessoas tendem a pontuar mais em
qualidade de vida e na evolução do tratamento de doenças.”
A
fé propriamente dita pode ter efeitos benéficos no corpo humano. Já
foi comprovado, por exemplo, por meio de uma pesquisa da Universidade
Duke, na Carolina do Norte (EUA), que pessoas com fé religiosa
conseguem melhorar o funcionamento de seu sistema imunológico. “Ter
uma fé ativa é tão fortemente associado à longevidade quanto ao
hábito de não fumar”, afirma David Myers, professor de psicologia
da Faculdade Hope, em Michigan (EUA).
Mas
se você não se sente preparado para ligar-se a algum grupo
religioso, não tem problema. A religião não é exatamente a única
forma de explorar a fé, muito menos de dar significado à vida. Quem
não se identifica com nenhum grupo religioso pode procurar outras
crenças. E crer em algo não significa necessariamente ser em Deus.
Um ateu convicto pode ter fé em seu próprio papel na história da
humanidade, na justiça social, no desenvolvimento sustentável do
planeta, na democracia. Ou ainda buscar o significado da vida em
algum desafio diferente, como aprender a escalar uma montanha,
cozinhar, tocar bateria, fazer mountain bike. Acreditar faz bem.
Outro caminho é a prática do altruísmo. Isso, inclusive, já foi
testado em laboratório: está comprovado que aumenta os índices de
felicidade e bem-estar. Vale visitar uma creche, colaborar com uma
ong, inscrever-se em um trabalho voluntário – enfim, fazer
qualquer coisa que ajude alguém.
4.
Ande mais a pé
Gastar
sola de sapato é um dos melhores exercícios que existem, seja para
a saúde física, mental, do meio ambiente ou do seu bolso mesmo.
Sim, porque para fazer caminhadas você não precisa gastar rios de
dinheiro com academias elaboradas, muito menos com personal trainer.
Um par de tênis basta. E quando falamos de caminhada, não estamos
nos referindo a nada profissional, que exija pista adequada e
treinamento. Pode ser no seu bairro, no quarteirão da sua casa, ou
até mesmo na escadaria do prédio, na pior das hipóteses.
Os
benefícios físicos vão desde a melhora do sistema imunológico, a
perda de peso e a oxigenação do corpo a até mesmo o aumento da
nossa inteligência, acredite. Segundo artigo publicado na revista
científica americana Trends in Neurosciences (“Tendências em
Neurociências”), a caminhada aumenta a resistência cerebral e
melhora o desempenho de leitura e aprendizado. E mais: beneficia a
plasticidade do cérebro – a capacidade que ele tem de se adaptar a
novas situações e realizar funções diferentes. Sem contar o
efeito no humor. “Andar diminui o estresse e ajuda muito no combate
à depressão”, afirma o médico ortopedista Victor Matsudo,
consultor da OMS (Organização Mundial da Saúde).
No
corpo, a caminhada ajuda a diminuir a gordura intra-abdominal, aquela
que se acumula entre as vísceras. É a famosa barriguinha de chope.
Ela é considerada a forma mais perigosa de depósito de gordura.
Estudos associam diretamente esses tecidos adiposos a vários
problemas de saúde – desde ataques cardíacos, problemas
coronarianos e hipertensão até a formação de pedras na vesícula
biliar.
Mas
ainda está dando preguiça? Bem, não é só da forma física que
estamos falando – andar a pé pode ser algo muito mais divertido
que fazer uns abdominais e uns supinos na academia, por exemplo. Se
você resolver tirar apenas uma hora do seu dia para caminhar no seu
bairro, vai perceber uma enorme diferença na sua socialização.
“Caminhar permite que você observe muito mais as coisas ao seu
redor, aproveite a natureza, reflita sobre a vida, pense em
histórias, lembre fatos e acontecimentos, faça cálculos, tenha
idéias, faça reflexões”, diz Victor. Você vai entrar em
lojinhas que nunca percebeu, pedir e dar informações, falar com
gente desconhecida (nessas, você pode acabar até conhecendo o amor
da sua vida). Às vezes também vai tomar um pouco de chuva e pisar
em cocô de cachorro, mas isso faz parte do jogo.
Deixar
o carro em casa de vez em quando já pode ser um bom começo para
começar a se exercitar. O trajeto pode ser pequeno – uma caminhada
de sua casa até a padaria ou à banca de revistas –, mas a
diferença já aparece. De quebra, você ainda estará contribuindo
para a diminuição da poluição, do trânsito, do consumo de
combustível, entre outras coisas. Outra boa idéia é evitar o
elevador e as escadas rolantes. São atitudes mínimas, mas que vão
começar a colocar seu corpo – e, por tabela, a sua mente – para
funcionar.
5.
Tenha (pelo menos) um amigo
Todo
mundo quer ser feliz, isso é tão verdadeiro quanto óbvio. O
psicólogo Martin Seligman, da Universidade da Pensilvânia (EUA),
passou anos pesquisando o assunto e concluiu que, para chegar à tal
felicidade, precisamos ter amigos. Os amigos, segundo ele, resumem a
soma das 3 coisas que resultam na alegria: prazer, engajamento e
significado. Explicando: conversar com um amigo, por exemplo, nos dá
prazer. Ao mesmo tempo, nos sentimos engajados, porque doamos muito
de nós mesmos a ele. E ainda esse bom bate-papo faz com que nossa
vida adquira um significado mesmo que seja momentâneo.
O
cientista social americano Ronald Inglehart analisou diversas
pesquisas sobre qualidade de vida e chegou à conclusão que os
ingredientes para uma vida feliz incluem relações próximas. “Os
homens têm o que os psicólogos apelidaram de uma profunda
necessidade de se sentirem incluídos. Os que são apoiados por
amizades íntimas se declararam muito felizes”, afirma.
Outro
benefício decorrente de ter amigos é manter a saúde em ordem. De
acordo com o psicólogo social David Myers, professor da Faculdade
Hope, nos EUA, as pessoas que têm amizades próximas ou são ligadas
à sua comunidade (seja de colegas de trabalho, de religião ou de
organizações por causas comuns) têm menos possibilidade de morrer
prematuramente, se comparadas àquelas pessoas que têm poucos laços
sociais. E perder esses laços aumenta o risco de ficar doente. “A
amizade libera substâncias hormonais no cérebro que favorecem a
alegria de viver e o bem-estar”, diz Roque Theophilo, presidente da
Academia Brasileira de Psicologia.
Mas
será que todo mundo tem amigos? A resposta não é tão óbvia. Uma
das queixas mais freqüentes no divã de analistas é a solidão.
Gente que não encontra ninguém para dividir com sinceridade suas
angústias. Ou que se sente só mesmo quando rodeada de pessoas –
aquela impressão de ter mil amigos, mas na realidade não ter
nenhum. É a chamada superficialidade das relações, tão discutida
nos dias de hoje.
Segundo
o psicanalista Contardo Calligaris, o único jeito de ultrapassar a
barreira da solidão é justamente tendo pelo menos um amigo e um
amor. Um só de cada, não precisam ser muitos. Mas isso dá um
trabalhão dos diabos, não pense você que é fácil.
Contardo
propõe uma situação hipotética: “Você é meu amigo e me
telefona para jantar. Você passa o tempo todo falando de si mesmo.
Quando eu começo a falar de mim, lá pelas tantas, você diz que
precisa ir embora, pois acorda cedo no dia seguinte. Tudo bem, na
próxima vez não vou aceitar o convite e você se sentirá sozinho.”
Isso não é amizade verdadeira. “Não se consegue uma amizade sem
generosidade”, afirma o psiquiatra. Para termos pelo menos um
amigo, diz ele, precisamos nos livrar daquilo que ele chama de
“avareza de si mesmo”. Trocando em miúdos: doar-se, estar
disponível, saber trocar. E, principalmente, olhar além do próprio
umbigo.
6.
Coma devagar
Parece
até falatório de mãe, mas os benefícios de diminuir o ritmo das
garfadas são incríveis. Para começar, ninguém ganha tempo comendo
um sanduíche na frente do computador – o máximo que você ganha
são quilos a mais, uma vez que, quanto mais rápido come, mais fome
sente. “Existem dois centros que regulam a alimentação no
cérebro: o centro da fome e o centro da saciedade”, afirma Arthur
Kaufman, coordenador do Prato (Projeto de Atendimento ao Obeso), do
Hospital das Clínicas da USP. “O centro da saciedade demora até
20 minutos para mandar uma mensagem ao outro de que você está
comendo e está satisfeito. Se você comer muito rápido, vai passar
da conta, sentir o estômago estufado antes que seu centro de
saciedade tenha tempo de informar seu corpo de que já está bom e
você deve parar de comer.” É isso que acontece numa churrascaria
rodízio com aqueles que comem na mesma velocidade em que os garçons
trazem os espetos.
Isso
quer dizer que, se você comer mais devagar, provavelmente vai comer
menos sem ter que fazer nenhuma dieta. O que será um ganho danado à
sua saúde. Fora a redução do peso e do risco de doenças aliadas à
obesidade, há diversas pesquisas que apontam que devemos diminuir a
quantidade de comida se quisermos viver mais. Por exemplo, uma
experiência conduzida na Universidade de Wisconsin em Madison, nos
EUA, mostrou que a redução do consumo calórico entre 30% e 40% fez
aumentar a sobrevida de ratos até os 38 anos – isso corresponderia
a aproximadamente 114 anos em humanos.
Mas
e o prazer de comer? Tem razão, é um dos principais prazeres da
vida. Mais um motivo para você comer devagar: vai saborear melhor a
comida, apreciar o prato e o momento, e, de quebra, não vai ficar
empanturrado. “Não há nenhum problema em comer um hambúrguer e
uma porção de batatas fritas, desde que você saboreie o sanduíche,
sinta o gosto do que está comendo e comer seja sua atividade
principal naquele momento”, afirma Heloísa Mader, representante do
Movimento Slow Food em São Paulo.
Em
oposição à moda do fast food, o slow food prega que incrementar a
qualidade da comida e desfrutá-la com calma é uma maneira simples
de fazer o nosso cotidiano mais feliz – conceito, aliás
aprovadíssimo pela Associação Dietética Americana. O movimento
quer que as pessoas voltem a curtir a refeição, e não comer por
compulsão ou como uma forma de compensar a ansiedade. Lembre-se
disso quando for buscar um sanduba correndo na padaria para comer
entre um trabalho e outro na frente do computador. “Isso é pior
ainda. Quando está distraído, você não percebe o sinal do centro
de saciedade e passa da conta. E o pior: como não registra a
saciedade, dali a 30 minutos vai ter fome de novo”, diz Arthur. E
já que o convencemos a comer mais devagar, aproveite para
compartilhar as refeições com quem mais gosta – isso não inclui
o computador nem a televisão, que fique bem claro.
7.
Desligue a TV
Ninguém
está dizendo aqui para você nunca mais assistir à televisão. Mas
que você poderia diminuir o tempo em frente ao aparelho, isso você
poderia. Até porque televisão em excesso não faz bem.
Telespectadores inveterados podem ter suas funções cognitivas
alteradas, problemas de postura e articulações, além de tornar-se
dependentes da telinha: essa é a conclusão de um amplo estudo
realizado em 2003 nos EUA pelos pesquisadores Robert Kubey, diretor
do Centro de Estudos de Mídia da Universidade Rutgers, em Nova
Jersey, e Mihaly Csikszentmihalyi, professor de psicologia da
Universidade de Claremont, na Califórnia.
Sim,
o hábito de se largar no sofá e assistir a qualquer porcaria que
esteja no ar pode deixar as pessoas viciadas no relaxamento que a TV
produz. O problema é que essa sensação gostosa vai embora assim
que o aparelho é desligado – é igualzinho ao vício em
substâncias químicas. O estado de passividade e a diminuição no
grau de atenção, no entanto, continuam. Quando vista por mais de 20
horas por semana, a televisão pode danificar as funções do lado
esquerdo do cérebro, reduzindo o desenvolvimento lógico-verbal.
Faça
uma continha rápida: se você assistir à televisão por cerca de 3
horas por dia, quando chegar aos 75 anos, terá passado 9 anos
inteiros da sua vida vendo TV. É tempo para chuchu sem exercitar a
mente nem o corpo, o que pode acarretar sérios problemas, desde
obesidade a até mesmo doenças degenerativas cerebrais, como
demência e mal de Alzheimer.
O
cérebro, assim como o corpo, também precisa ser exercitado. Só que
ninguém se lembra dele nas academias de ginástica, por exemplo. A
diminuição da capacidade mental associada à idade ocorre por causa
de alterações nas ligações entre as células cerebrais. Há
indícios de que manter o cérebro em atividade ajuda a aumentar as
reservas de células e conexões cerebrais. “O que é bom para seu
coração é bom para seu cérebro. Tudo aquilo que você fizer para
prevenir doenças coronárias também vai ajudar sua cabeça e assim
diminuir o risco de desenvolver mal de Alzheimer”, indica a
Associação Alzheimer, órgão americano de ajuda e informação aos
portadores da doença.
Segundo
um estudo publicado na revista científica Nature, ratos e outros
roedores estimulados com brinquedos e aparelhos para exercícios
desenvolveram células novinhas em folha na região do cérebro
envolvida com aprendizado e com a memória. Portanto, mande ver nas
atividades físicas. Agora, é lógico, lembre-se de botar a cabeça
para funcionar também. Ler, escrever, jogar jogos de tabuleiro,
aprender coisas novas, fazer palavras cruzadas, resolver passatempos
de lógica: todas essas atividades mantêm seu cérebro ativo e, quem
sabe, criam reservas de células e conexões. Estudar sempre algo
diferente pode ser um bom jeito de obrigar sua cabeça a pensar mais.
Outra idéia que também contribui para romper a inércia cerebral é
praticar atividades ao ar livre – no mínimo, elas vão arrancar
você do sofá e da frente da televisão.
Não
leve nada disso tão a sério
Se
você leu esta reportagem até aqui – e levou tudo o que está
escrito em consideração – deve estar cheio de tarefas a cumprir.
De fato, são dicas que podem ajudá-lo a melhorar consideravelmente
seu dia-a-dia. Mas, sinceramente, não precisa tanta rigidez. Se der
para fazer tudo, ótimo. Se não der, tudo bem também. E não
precisa levar tão a ferro e fogo as milhares de pesquisas que mandam
comer isso e fazer aquilo, caindo em depressão profunda se
“fracassar” em um ou dois itens. Afinal, são as escapulidas que
tornam a vida da gente divertida – ou você acredita mesmo que
todas as nutricionistas esguias e saudáveis só comem refeições
balanceadas e todos os médicos fazem ginástica todo santo dia?
Essas pessoas também capitulam à preguiça, comem demais e xingam a
mãe dos outros no trânsito.
Radicalismos
e rigidez com regras são um perigo. Podem se tornar uma obsessão e
isso não é bom – mesmo que seja por uma vida saudável. O melhor
mesmo para a saúde é o equilíbrio, a flexibilidade. “Todos os
meus pacientes que mudaram o comportamento e se tornaram mais
flexíveis tiveram uma melhora no estado de saúde. Pessoas muito
rígidas, controladoras e perfeccionistas tendem a ter mais doenças
do coração”, afirma o cardiologista Alan Rozanski, do
Departamento de Medicina da Universidade Colúmbia, Nova York. Os
oncologistas também vêm avançando em estudos que comprovam ligação
entre esse tipo de comportamento humano e o desenvolvimento de câncer
– chama-se “padrão biopsicossocial de risco de câncer”. Ele é
caracterizado principalmente por pessoas que negam ou suprimem as
emoções, são muito racionais e têm um controle muito rígido que
as impede de se expressar. Esse perfil diminuiria a competência do
sistema imunológico, seja para prevenir o câncer, seja para
combatê-lo durante o tratamento, ou para impedir que ele reincida.
Edward
Creagan, médico oncologista da Clínica Mayo, em Rochester, EUA, é
um ardoroso defensor da flexibilidade para a manutenção da saúde.
Mas como chegar até ela? “Ser resiliente não é seguir os clichês
de ‘se a vida te deu um limão, faça uma limonada’. Ser
resiliente é não ignorar seus sentimentos, suas dores”, diz. “É
também perceber que nem sempre você tem que ser forte, você pode
pedir ajuda. Esses são fatores fundamentais para lidar bem com o
estresse e com as situações ruins da vida. Essa capacidade protege
você e seus familiares de doenças como depressão, ansiedade,
estresse pós-traumático, doenças cardíacas e diabetes”. Está
vendo? Até o corpo agradece. E aí? Vai uma picanha no capricho? Com
polenta frita?
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