Será que o futuro dos filmes está mais próximo que pensamos?
Criação de robôs capazes de matar gera dilemas entre militares nos EUA
O
pequeno drone com seis rotores passou zumbindo pela réplica de uma
aldeia do Oriente Médio e se aproximou de uma construção parecida
com uma mesquita, com sua câmera procurando alvos.
Não
havia seres humanos pilotando remotamente o drone, que era apenas uma
máquina que pode ser comprada na Amazon. Mas, armado com software de
inteligência artificial avançado, ele tinha se transformado em um
robô capaz de encontrar e identificar a meia dúzia de homens que
carregavam pela aldeia réplicas de fuzis AK-47, fingindo ser
insurgentes.
Jacob
Regenstein e Ben Krosner participam de teste com drone no Estado
americano de Massachusetts
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Enquanto
o aparelho teleguiado descia ligeiramente, um retângulo vermelho
brilhou em um vídeo que estava sendo transmitido para engenheiros
que monitoravam o teste. O drone havia parado sobre um homem
obscurecido nas sombras, uma demonstração de proeza nessa caçada
que deu uma antevisão assombrosa de como o Pentágono pretende
transformar a prática da guerra.
Quase
sem ser notado fora dos círculos de defesa, o Pentágono colocou a
inteligência artificial no centro de sua estratégia para manter a
posição dos EUA como potência militar dominante no mundo. Ele está
gastando bilhões de dólares para desenvolver o que chama de armas
autônomas e semiautônomas e para construir um arsenal de armas do
tipo que até agora só existia em filmes de Hollywood e na
ficção-científica, alarmando entre cientistas e ativistas
preocupados com as implicações de uma corrida bélica robótica.
O
Departamento de Defesa dos EUA está projetando caças a jato
robóticos que entrariam em combate ao lado de aeronaves pilotadas.
Além disso, testou mísseis que podem decidir o que devem atacar e
construiu navios que podem caçar submarinos inimigos, seguindo os
que descobre por milhares de milhas sem a ajuda de seres humanos.
"Se
Stanley Kubrick dirigisse 'Dr. Fantástico' hoje, seria sobre a
questão das armas autônomas", disse Michael Schrage, um
bolsista de pesquisa na escola de administração do Instituto de
Tecnologia de Massachusetts (MIT).
As
autoridades de defesa dizem que as armas são necessárias para que
os EUA mantenham sua vantagem militar sobre a China, a Rússia e
outros países rivais, que também estão investindo dinheiro em
pesquisas semelhantes (além de aliados como o Reino Unido e Israel).
O último orçamento do Pentágono destinou US$ 18 bilhões (cerca de
R$ 56 bilhões) a serem gastos em três anos em tecnologias que
incluem as exigidas por armas autônomas.
Assim
como a Revolução Industrial promoveu a criação de máquinas
poderosas e destrutivas como aviões e tanques, que diminuíram o
papel dos soldados individuais, a tecnologia de inteligência
artificial está permitindo que o Pentágono reorganize os lugares do
homem e da máquina no campo de batalha, do mesmo modo que transforma
a vida comum com computadores capazes de ver, ouvir e falar e carros
que podem se conduzir autonomamente.
O
engenheiro Jacob Regenstein faz teste com drone autônomo em
Massachusetts
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As
novas armas ofereceriam velocidade e precisão sem comparação com
as de qualquer ser humano, enquanto reduziriam o número —e o
custo— de soldados e pilotos expostos à morte ou a ferimentos
graves em combate. O desafio para o Pentágono é garantir que as
armas sejam parceiras confiáveis dos humanos, e não potenciais
ameaças.
No
centro da mudança estratégica imaginada pelo Pentágono há um
conceito que as autoridades chamam de guerra de centauros. Com o nome
do ser mitológico grego que era meio humano e meio cavalo, a
estratégia enfatiza o controle humano e as armas autônomas como um
meio de aumentar e ampliar a criatividade e a capacidade de solução
de problemas de soldados, pilotos e marinheiros, e não
substituí-los.
As
armas, na visão do Pentágono, seriam menos como o Exterminador do
Futuro e mais como o super-herói dos quadrinhos Homem de Ferro,
disse em uma entrevista o vice-secretário de Defesa, Robert O. Work.
Fora
do Pentágono, porém, há uma profunda desconfiança de que tais
limites se mantenham firmes quando as tecnologias para criar armas
pensantes forem aperfeiçoadas. Centenas de cientistas e
especialistas advertiram em uma carta aberta no ano passado que
desenvolver até a mais burra das armas inteligentes corre o risco de
desencadear uma corrida armamentista global. O resultado, segundo a
carta, seriam robôs totalmente independentes, capazes de matar,
baratos e facilmente disponíveis, tanto para Estados vilões e
extremistas violentos quanto para as grandes potências.
"As
armas autônomas serão as Kalashnikov de amanhã", disse a
carta (Kalashnikov é o nome de um tipo de rifle automático).
O
debate entre os militares não é mais sobre se se devem construir
armas autônomas, mas sobre quanta independência se deve dar a elas.
O general da Força Aérea, Paul J. Selva, vice-presidente do Estado
Maior Conjunto, disse recentemente que os EUA estão a
aproximadamente uma década de possuir a tecnologia para construir um
robô totalmente independente, capaz de decidir por conta própria
quem e quando matar, embora não tenham a intenção de fabricar
nenhum.
Outros
países não estão longe disso, e é muito provável que alguém
eventualmente tente lançar "uma espécie de Exterminador",
disse Selva, invocando o que parece ser uma referência comum em
qualquer discussão sobre armas autônomas.
Joe
Kehoe faz traços sobre foto e satélite antes de teste com drone
autônomo em Massachusetts
|
Por
enquanto, porém, o estado atual dessa arte é decididamente menos
assustador. O pequeno drone desarmado testado neste verão em
Massachussets não conseguiu se ligar sozinho e simplesmente decolar.
Humanos tiveram de lhe dizer aonde ir e o que procurar. Depois de
solto, porém, ele decidiu por si mesmo como executar as ordens.
O
projeto é dirigido pela Agência de Projetos de Pesquisa Avançada
de Defesa, conhecida como Darpa, que está desenvolvendo o software
necessário para máquinas capazes de trabalhar com pequenas unidades
de soldados ou fuzileiros navais como batedores ou em outras funções.
Além
das preocupações práticas, a junção de automação cada vez mais
capacitada com armas provocou um debate mais intenso entre estudiosos
de Direito e de ética. As perguntas são numerosas, e as respostas,
polêmicas: pode-se confiar em uma máquina com força letal? De quem
será a culpa se um robô atacar um hospital ou uma escola? Ser morto
por uma máquina é uma maior violação da dignidade humana do que
se o golpe fatal for dado por um humano?
Uma
diretriz do Pentágono diz que as armas autônomas devem empregar
"níveis adequados de avaliação humana". Cientistas e
especialistas em direitos humanos dizem que o critério é amplo
demais e pediram com urgência que tais armas sejam submetidas a um
"controle humano significativo".
Matéria
na íntegra através do link:
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2016/10/1826798-criacao-de-robos-capazes-de-matar-gera-dilemas-entre-militares-nos-eua.shtml
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