Droga de ingestão oral vem mostrando eficácia
Câncer e embolia
Para
evitar a coagulação do sangue, frequente em tumores malignos, uma
droga de ingestão oral vem mostrando sua eficácia
O Edoxaban enfrenta agora a morosa burocracia do Brasil |
Pacientes
com tumores malignos apresentam um risco muito elevado de coagulação
do sangue (trombose) em suas veias profundas, mesmo sem causa óbvia
e imediata. Além do desconforto local devido à trombose, a
inflamação e até o surgimento de algumas varizes regionais, o
maior perigo reside no fato de parte desses coágulos soltar-se,
migrar dentro da corrente sanguínea e chegar aos pulmões, onde pode
levar à obstrução das artérias. É a famosa embolia pulmonar,
normalmente grave, muitas vezes fatal
Os
oncologistas estão sempre atentos a essa possibilidade e tratam
agressivamente quadros de trombose
e
de embolia para evitar a progressão da situação clínica ou a
morte dos pacientes. Muitas vezes, a resolução do câncer reduz o
risco de trombose ou de embolia. Mas, na maioria dos doentes, a
anticoagulação seria o tratamento ideal e imediato.
Até
recentemente, o cuidado-padrão geralmente necessitava diariamente de
injeção subcutânea de um medicamento que diminui muito o risco de
o sangue coagular, apesar de elevar a chance real de efeitos
colaterais, como os sangramentos eventuais.
Um
estudo publicado nesta semana na revista New
England Journal of Medicine,
liderado pelo doutor G.E. Raskob, da Universidade de Oklahoma, nos
Estados Unidos, avaliou a eficiência de uma droga anticoagulante
oral, o Edoxaban, que evita injeções diárias (estudo apoiado
financeiramente pela indústria farmacêutica Daiichi Sankyo). Esse
medicamento já havia sido aprovado pela FDA (agência controladora
nos EUA) para tratamento de alguns casos de obstrução arterial.
Os
pesquisadores sortearam 1.050 pacientes com câncer, que tiveram
quadro comprovado de trombose, para receber Edoxaban pela boca ou
Dalteparina injetável, durante um período mínimo de seis meses. Os
cientistas demonstraram a eficiência equivalente das duas drogas,
evitando da mesma forma a ocorrência de novos episódios de trombose
venosa ou embolia. O risco de sangramento foi levemente mais elevado
com o uso de Edoxaban.
Os
resultados desse estudo são muito encorajadores, oferecendo a
confirmação da possibilidade de proteger os pacientes com câncer
da
temível trombose venosa profunda, associada a embolia pulmonar, e de
forma mais confortável e fácil, com a administração oral de
anticoagulantes. A eficiência comparável à injeção subcutânea é
notável.
Se
aprovado para essa indicação em oncologia, o Edoxaban deverá
percorrer o árduo caminho de acesso a todos os pacientes no Brasil,
tratados tanto em hospitais privados quanto nos públicos,
principalmente pelos custos finais que chegarão ao mercado local.
Seguradoras de saúde e o SUS
terão
de redefinir o tratamento dos pacientes com câncer e com trombose
venosa, sob a orientação das autoridades de saúde brasileiras.
Geralmente, em ano de eleições, essas decisões têm pouca
prioridade política. Os pacientes teriam de aguardar.
Médico,
diretor-geral do Centro de Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz
e professor da Faculdade de Medicina da USP
Matéria
na íntegra você pode ler através do seguinte link:
https://www.cartacapital.com.br/revista/992/cancer-e-embolia
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