Senado aprova projeto que criminaliza vingança pornográfica
Senado aprova projeto que criminaliza vingança pornográfica
O projeto que combate a exposição pública da intimidade sexual das mulheres precisa ser aprovado pela Câmara para que vire lei
Senado: a norma vai prever pena de três meses a dois anos para o crime |
Em
um esforço para votar projetos da chamada pauta feminina, os
senadores aprovaram na quarta-feira (7) três medidas que ampliam os
direitos das mulheres
e
buscam combater a violência contra elas.
Duas
matérias já tinham sido apreciadas pelos deputados e seguem agora
para sanção presidencial: a que torna crime o descumprimento de
medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha e a que obriga a
Polícia Federal a investigar conteúdos misóginos (que expressam
repulsa ou aversão às mulheres) publicados na internet.
Já
o projeto que combate a exposição pública da intimidade sexual das
mulheres precisa ser aprovado pela Câmara para que vire lei.
Ao
defender o projeto que tipifica o crime de descumprimento de medidas
protetivas, a relatora, senadora Vanessa Graziotin (PCdoB-AM),
afirmou que, hoje em dia, não há punição para os homens que
violam a proibição judicial de se aproximar das mulheres nos casos
de violência doméstica e familiar. Caso seja sancionada pelo
presidente Michel Temer, a norma vai prever pena de três meses a
dois anos para o crime.
Para
a senadora, penalidades mais duras podem contribuir para reduzir a
ocorrência de tais problemas no Brasil. “Lamentavelmente, não são
poucos os agressores que descumprem medidas protetivas, voltam a
agredir as suas companheiras, e nenhuma penalidade maior sofrem por
parte da legislação brasileira”, afirmou Vanessa.
Relatado
por outra senadora, Gleisi Hoffmann (PT-PR), o projeto que torna
crime a divulgação de cenas da intimidade sexual e a chamada
vingança pornográfica foi aprovado de modo simbólico pela
unanimidade dos presentes na sessão, assim como o que trata do
descumprimento de medidas protetivas. O objetivo da proposta é
reconhecer que a violação da intimidade da mulher consiste em uma
das formas de violência doméstica e familiar.
Segundo
a matéria, estão sujeitas à reclusão de dois a quatro anos as
pessoas que oferecerem, trocarem, distribuírem ou exibirem, por
qualquer meio audiovisual, conteúdos com cena de nudez ou ato sexual
de caráter íntimo sem a autorização dos participantes. “A
principal vítima da ‘vingança pornográfica’ é a mulher, e os
responsáveis por esse tipo de conduta, na maioria das vezes, são os
ex-cônjuges, ex-parceiros e até ex-namorados das vítimas”, disse
Gleisi, ao relatar o projeto.
O
projeto também estipula penas para o registro não autorizado da
intimidade sexual das mulheres. De acordo com Gleisi, a violência
“absurda e covarde” cometida por ex-companheiros gera
consequências para as mulheres como a perda de emprego e das
relações sociais. A matéria é originária da Câmara, mas, como
foi alterada durante a tramitação no Senado, segue novamente para
análise dos deputados.
Outro
projeto de lei aprovado hoje pelos senadores inclui nas atribuições
da Polícia Federal a investigação de crimes praticados por meio da
internet que disseminem conteúdo misógino, ou seja, que propagam o
ódio contra a mulher. Proposta pela deputada Luizianne Lins (PT-CE),
a matéria segue agora para sanção presidencial. Ela inclui na
legislação de crimes interestaduais ou internacionais a
prerrogativa da PF para apurar infrações relacionadas ao tema. Ao
propor o projeto, Luizianne argumentou que as polícias estaduais não
têm condições materiais para coibir e investigar crimes cometidos
na internet.
“Acreditamos,
sinceramente, que essa alteração legislativa contribuirá para que
não surjam mais casos como o ocorrido com a doutora Lola Aronovich,
professora universitária e feminista “blogueira”, que teve o
sítio eletrônico de seu blog clonado em passado recente. No lugar
de mensagens em defesa dos direitos da mulher, os criminosos criaram
páginas falsas e estamparam postagens preconceituosas, misóginas e
misândricas. Como conseqüência dos ataques cibernéticos, Lola
Aronovich foi perseguida, física e virtualmente, sem que a polícia
local conseguisse, efetivamente, encontrar os responsáveis por esses
atos”, escreveu a deputada, ao justificar a proposição.
Presente
no plenário, a senadora Rose de Freitas (MDB-ES) disse as punições
propostas pelo projeto de lei e a atribuição que está sendo dada à
Polícia Federal têm importância muito grande. “Estou chamando a
atenção de todos da Casa para saberem que nós estamos tentando
avançar na legislação brasileira quanto a esse crime de misoginia,
que ocorre com as mulheres todo dia e que atenta contra tudo, o
respeito e tudo mais”, afirmou.
A
aprovação dos projetos escolhidos pela bancada feminina foi
possível após um acordo entre os parlamentares para que houvesse
celeridade na tramitação. De manhã, os senadores promoveram uma
sessão solene pelo Dia Internacional da Mulher, que foi comemorado
na quinta-feira (8). A homenagem à mulher, que ocorre todos os anos,
entregou dessa vez o diploma às 26 deputadas presentes à Assembleia
Nacional Constituinte de 1987 e 1988.
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